sexta-feira, fevereiro 26, 2010

100 Verde Rubros Anos - Capítulo II, Parte 1


Um Clube Imbatível

No período que se segue à fundação, a nova formação do Marítimo faz justiça à fama que rodeava as primitivas equipas que lhe deram origem. Respondendo com galhardia aos sucessivos desafios que lhe são dirigidos por grupos desportivos locais e das tripulações dos barcos que passam pelo Funchal, mantém-se invencível, por mais de oito anos, nos jogos que realiza no campo Almirante Reis. Por essa razão, as suas equipas de segunda e terceira categorias são frequentemente requisitadas para defrontar adversários anteriormente derrotados pela principal formação. E, nas mais das vezes, as vitórias voltam a ser do Marítimo. Essa invencibilidade traz novos desafios. Espalhada no país e no estrangeiro pelo testemunho das tripulações que experimentavam o pó do campo Almirante Reis e pela voz orgulhosa de comerciantes madeirenses, desperta a curiosidade e alimenta o respeito de adversários não imaginados à partida. Cedo o Marítimo passa a ter duas frentes de batalha – manter a supremacia local e afirmar-se nos compromissos que é convidado a assumir fora da Região. E, registe-se, quando o Marítimo começa a sair da Madeira, não vai só. Com todos os elementos que vestem a sua camisola seguem também as expectativas e as aspirações que os madeirenses depositam no clube.

Chamada de Lisboa

Na capital do país, onde começam a pontificar Benfica e Sporting, tomasse conhecimento da existência, na Madeira, de uma equipa muito especial. Causa particular impressão a sua invencibilidade, espalhada aos quatro cantos pela boca dos tripulantes dos barcos que passam pelo Funchal. E por muitos comerciantes madeirenses, radicados ou de passagem pelas principais cidades do país e pelas vizinhas ilhas canarianas.Daí ao convite para a deslocação do Marítimo a Lisboa foi um pequeno passo. Cosme Damião, capitão-geral do Benfica, será o principal organizador desta primeira digressão verderubra. A parte mais substancial dos encargos da empresa ficam à sua responsabilidade.
A caravana madeirense parte para a capital nos primeiros dias de Outubro de 1912, a bordo do vapor Hildebrand. Sob a direcção de João da Costa (Meliça), o membro da Direcção que desempenha as funções de capitão-geral ou capitão de jogo, o grupo tinha a seguinte constituição:
Dionízio da Câmara Lomelino, que fora ‘juiz’ (designação a que correspondia o cargo de presidente) do Club Português de Sport Marítimo, agora ‘acumula’, com a sua vida comercial em Lisboa, a representação do clube no Continente. Este antigo presidente do primitivo ‘Marítimo’ e Fernando Câmara, outro apaniguado do Marítimo que também vive em Lisboa, fazem chegar à Madeira inúmeras recomendações sobre a preparação da digressão. No entender de ambos, era vital que se confirmasse nos campos lisboetas a fama que o Marítimo gozava.

Resultados inesperados

Mas não é isso que vai acontecer. Dos cinco jogos que disputa na capital, o Marítimo triunfará apenas contra o Lisboa F.C., por 3-0. Nos restantes encontros sofre derrotas: 1-3 e 2-5 com o ‘anfitrião’ Benfica, 0-1 com o Internacional e 1-5 com o ‘Misto’ da Associação de Futebol de Lisboa. Como explicar o desaire? A surpresa da descoberta da capital, contactada pela primeira vez pelos jogadores, é a explicação mais avançada. Mas Willender, um dos estrangeiros que alinhara pelo Marítimo em 1911, desdramatiza a situação. Vindo de Barcelona (onde vive) a Lisboa, de propósito para ‘reforçar’ o grupo, o inglês reflecte sobre o desfecho das partidas, e em relatório enviado ao presidente Joaquim Pontes, refere a pouca sorte do guarda-redes e a inadaptação da equipa ao Campo das Laranjeiras, de piso irregular e duro, como principais factores do desaire.

Imagem positiva

A verdade é que se fala de desaire sobretudo entre os madeirenses. Os testemunhos dos jornais continentais da época são esclarecedores. Vejamos o que nos diz o Século acerca do primeiro jogo com o Benfica:
O grupo madeirense tem fama de invencível, porque até hoje não o conseguiram vencer os franceses, os ingleses e alemães de passagem pela Madeira (...). O team campeão de Lisboa venceu por 3-1 o C.S. Marítimo, mas a sua vitória foi difícil e obtida com trabalho. O team do Funchal é o mais forte que nos tem visitado; menos científicos que os bordaleses, mas talvez mais enérgicos e mais homogéneos. O seu halfcenter tem condições excepcionais dum excelente jogador, e o forward da esquerda (....) é muito bom (...) ".
O Diário de Notícias lisboeta e o Sports Ilustrado alinham pelo mesmo diapasão. Considerando os jogadores do Marítimo rápidos, certeiros nas passagens e enérgicos, salientam que o Benfica, apesar do score final, não teve um momento de descanso. E o remate final do Sports Ilustrado é esclarecedor:
"O C. S. Marítimo provou no seu primeiro match que não era exagerada a fama de que vinha precedido".

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