quarta-feira, fevereiro 17, 2010

100 Verde Rubros Anos - Capítulo I, Parte 4

Vencer os "Manatas''
... capazes de vencer os ‘manatas’, alcunha usada pelos marítimos para distinguir os que viviam para além do Largo do Pelourinho. Era uma ambição profunda, enraizada na classe, com uma dupla significação. Em primeiro lugar, a da criação de uma equipa própria; depois a da vontade de se opor aos ‘invasores’ que, sem viverem na parte mais velha da cidade, dela faziam o espaço predilecto para os seus divertimentos desportivos. Aos quais (ainda) não tinham acesso os marítimos. Mas, ainda antes de surgir uma única equipa da classe, duas formações de marítimos disputam animados jogos entre si. Essas equipas são chefiadas por João da Costa (Meliça ou João da Meliça) e João de Castro (Bife). Ambos vão tomar parte das iniciativas que darão origem ao Club Sport Marítimo.


Marítimo Português
Em 1908 há já indícios da existência de um tal Club Português de Sport Marítimo. Porém, a primeira referência escrita sobre esse Clube vem estampada no Heraldo da Madeira, de 27 de Agosto de 1910, na qual pode ler-se:
"Este clube de foot-ball, fundado há pouco nesta cidade, conta entre outros os seguintes elementos:Direcção: Dionízio da Câmara Lomelino, juiz; Cândido Fernandes Gouveia, secretário; João da Costa, capitão do jôgo; José Rodrigues, Augusto Viveiros, António Fernandes, José C. Pimenta, Júlio Jesus Drumond, Luís F. Gouveia, Vasco de Castro, José B. Freitas, Manuel da Costa e Carlos da Silva, são os nomes do grupo Club Português de Sport Marítimo, que tomou parte no match de foot-ball na quinta-feira última no qual ficou vencedor por dois goals".
Esta vitória foi alcançada sobre uma equipa constituída entre os marinheiros do cruzador português Adamastor. O feito ficou a dever-se, ainda segundo o Heraldo, à "notável coragem" dos marítimos, que jogam "ansiando sempre a vitória licitamente".
Por seu turno, o Club Sports Madeira já tinha organizado, a 5 de Setembro do ano anterior (1909), um jogo de futebol entre duas equipas do clube. Uma dessas equipas era capitaneada por Humberto Passos Freitas, regressado nesse mesmo ano do estrangeiro, donde trouxe uma bola; a outra formação ficou sob o comando de George Gordon. O prélio, que entre populares e membros da alta sociedade cativou a atenção de muitos curiosos, disputou-se na Praça de Rainha... O coreto serve para uma das balizas, ficando a outra situada em parte do barracão dos bilhares também ali localizado.

Club Sport Marítimo
A única certeza de que o Club Sport Marítimo foi fundado a 20 de Setembro de 1910 advém dessa ter sido a data em que, logo a partir do segundo ano de existência, se passou a comemorar a passagem dos aniversários da colectividade. Não está identificado qualquer elemento de outra natureza que permita negar a veracidade dessa data, consolidada pelas tradições clubísticas.

Do Sonho à Realidade
Cândido Gouveia, que como se viu esteve embrenhado nos primeiros ‘pontapés na bola’ madeirenses e vinculado ao Club Português de Sport Marítimo, é um elemento-chave na constituição do novel Club Sport Marítimo. Merecedor de consideração por parte dos marítimos, foi o principal entusiasta de dar corpo à ideia que estava latente há muito na classe e cuja forma mais aproximada fora o tal Clube Português de Sport Marítimo. O seu nome figurará como fundador ‘número um’ do Marítimo. Uma posição compreensível, se se entender que ele tinha sido também o principal dinamizador dos jogos realizados pelas equipas dos nossos já conhecidos ‘Meliça’ e ‘Bife’. ‘Candinho’ rodeia-se dos elementos que se tinham empenhado nos primeiros passos do futebol dos marítimos e, no estabelecimento que possuía na zona velha da cidade (o ‘Aurora’), determina as condições que vão permitir a ansiada instituição de um clube madeirense, da classe dos marítimos, vinculado à propaganda da vindoura República.Era a materialização de um sonho. Mas também uma resposta à fundação do Club Sports Madeira, que acontecera pouco tempo antes e que, como já se viu, perseguia o mesmo objectivo de fundar uma equipa onde os madeirenses também tivessem lugar, fosse para organizar jogos entre os grupos locais, fosse para defrontar as equipas de estrangeiros residentes ou turistas.

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