Novo convite
Não admira, pois, que tenha surgido novo convite para deslocação a Lisboa. Um ano depois, escrever-se-ia direito ... por linhas tortas. Analisando sem o devido cuidado a indagação de Pina Manique, dirigente do Lisboa F.C., sobre a disponibilidade para realização de mais jogos na capital, a comitiva verde-rubra ‘apanha’ o vapor S. Miguel, de passagem pelo Funchal, rumo à capital. Estamos nos primeiros dias de Outubro de 1913. Em relação à primeira digressão, o grupo de jogadores sofre algumasalterações. Notam-se as ausências de Alfredo Rodrigues (Cãosinho), Silvestre Rodrigues (Russo), Guilherme Fernandes (Sanfona), Moisés de Sousa, Augusto Viveiros (Sarnica) e Luís de Sousa (Kaga), cujos lugares são ocupados por Abel Gomes (Caraça), José Rodrigues (Jusa), José Sousa (Patas), Manuel de Jesus (Múler) e Luís Gouveia (Feijão).Joaquim de Pontes (Ventania), que vinha exercendo o cargo de presidente da Direcção desde a fundação, mas acedera desempenhar o cargo de presidente da Assembleia Geral, deixando a sua função original a cargo de José Evangelista Coelho, é o líder da caravana e o seu principal financiador.
Resultados positivos
Os resultados alcançados são o espelho desse desejo de voltar a Lisboa para desfazer os equívocos da primeira deslocação:
Lisboa F.C., 2 - Marítimo, 3;
Império Lisboa Clube, 0 - Marítimo, 2;
Sporting C.P., 2 -Marítimo, 1;
S.L. Benfica, 0 - Marítimo, 0;
‘Misto de Lisboa’, 5 - Marítimo, 0.
Dando alguma razão a Willender, o Século regista, a propósito do jogo com o Império Lisboa Club:
"Os jogadores do Marítimo, já mais conhecedores do terreno, trabalharam muito melhor, com mais combinação (...)". E acrescenta: "O Marítimo jogou do começo ao fim com a mesma energia e decidida vontade, e sempre com relativa serenidade". A concluir:"Barrinhas (...) foi halfcenter de todos os desafios, trabalhador e desempenhando o seu lugar com energia e cor. O Diário de turno, sublinha:
"O team visitante, além dos seus recursos de jogadores, tem quase todos dotados de bastante rapidez, bom pontapé e robustez, o que os torna adversários perigosos, mas destacaremos, no entanto, as pontas, o half-center Barrinhas e a meia ponta direita (Jusa) como belos jogadores".
Táctica Revolucionária
Luís Inácio Ferreira é um dos responsáveis destes resultados. A sua contribuição para o êxito alcançado acabaria manchada pela sua futura oposição ao clube que nesta oportunidade tão brilhantemente serve; mas seria injusto e inadequado negar a importância da sua acção junto da equipa.Procedendo à introdução de uma inovação táctica, a qual consiste no recuo de Barrinhas de half-center para back-center, estabelece um reforço defensivo que altera, pelo menos quando o adversário está ao ataque, a linha de defesas de dois para três, circunstância que motiva a condenação de alguns críticos.O ordenamento táctico deste Marítimo é, de facto, precursor e revolucionário – representa a alteração do 2:3:5, que está em voga desde 1885, e prenuncia as mudanças que vão abrir as portas ao dispositivo WM, só adoptado plenamente a partir de 1930.
Momentos Difíceis
Se do ponto de vista desportivo tudo correu de modo satisfatório, já o mesmo não se pode dizer das restantes condições desta segunda visita à capital.A escassez de tempo para organizar e divulgar os jogos na capital, aliada à falta de clareza das responsabilidades financeiras das partes envolvidas, conduziram a uma grave crise na vida interna do Marítimo, cujos efeitos se fazem sentir a partir de 1914. Para mais, este é o ano do início da I Grande Guerra, da qual resultarão grandes problemas à classe marítima – a redução do movimento do porto do Funchal torna mais agreste a sua já dura vida.Este conjunto de circunstâncias – em especial o prejuízo financeiro da segunda digressão a Lisboa, que vai ficar por conta de Joaquim Pontes (Ventania) – contribuem para que os principais fundadores e dinamizadores do Marítimo se desmotivem. O clube enfrenta dificuldades muito grandes. A sede social deixa de funcionar. O mobiliário existente é colocado num armazém particular. A continuidade do Marítimo é posta em causa. Os de fora desejam-na. Os da ‘casa’ estão desavindos e sem muitas perspectivas de solução para os problemas ...
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