Raízes Sólidas
Mas as raízes criadas eram sólidas. Luís Gouveia (Feijão), jogador da primeira categoria, enche-se de brios e, auxiliado por outros companheiros das mesmas andanças, aluga uma um quarto numa casa de moradores, restabelecendo ali a sede provisória do Clube.Após esta reacção, um grupo de novos dirigentes, anteriormente ligados ao Ateneu Comercial, toma em mãos a vida do Marítimo. Gonçalo de Ornelas é o principal elemento deste grupo, que conta ainda com Agostinho Figueira de Sousa, César Vieira e Aquino Baptista. Os tempos são difíceis. Mas Gonçalo de Ornelas vai assumir a responsabilidade de manter viva a chama verde-rubra.Durante anos, ele será a ‘alma’ da colectividade, dirimindo – muitas vezes só – as duras batalhas que se impunha travar para relançar o Marítimo. É exemplar a sua decisão de assumir o pagamento da renda da nova sede, que entendia como vital para o ressurgimento do Clube.Nela vai ser montando um balneário, uma sala de jogos para os sócios e a secretaria, espaços essenciais para retomar a vida associativa.
Cisão Unionista
É neste quadro de dificuldades que se deve entender a cisão, em 1914, do Grupo União-Marítimo (G.U.M.). Tudo tinha começado um ano antes, com a integração do Grupo Sport Infantil no quadro do Marítimo. O objectivo era a formação de jogadores para a primeira categoria verde-rubra.O G.U.M., que usava camisolas listadas vermelhas e brancas, dispunha de certa autonomia, nomeadamente no que respeita à organização de jogos.
A dado momento, surge um conflito entre o Grupo e Gonçalo de Ornelas, tendo por base a propriedade de umas balizas. Ao que parece, ambos teriam pago as ditas ao mesmo construtor...O certo é que a desavença não se desfez e os ‘unionistas’ acabaram por declarar a sua independência total em relação ao Marítimo. João Fernandes Rosa, Alexandre Vasconcelos, José Anastácio do Nascimento e José Fernandes são os principais dinamizadores do novo clube autónomo. Estamos a falar do União Futebol Clube, primitiva designação do actual Clube de Futebol União.
C.S. Madeira Aproveita
Um clube a passar todas estas dificuldades não teve também capacidade para resistir ao ‘assalto’ às suas fileiras.A ‘estória’ conta-se rapidamente: em Maio de 1914, o Club Sports Madeira prepara uma deslocação a Canárias. E na mira de fazer boa figura entendeu reforçar-se com jogadores que pertenciam aos quadros do Marítimo.É assim que nessa sua equipa em digressão são integrados quatro dos melhores jogadores dos verde-rubros: Moisés de Sousa, José Rodrigues (Jusa), Abel Gomes (Caraça) e Manuel de Jesus (Múler). No regresso ao Funchal estes jogadores não são readmitidos no Marítimo.Aumenta a rivalidade entre os que eram os dois principais clubes madeirenses da época. No Clube dos ‘marítimos’ relembra-se o manuscrito (sem autor identificado), relativo à tomada de posse da Direcção de 1911:
"... Sei que o Club Marítimo tem inimigos que desejam vê-lo desaparecer ou então ser derrotado; sei que já têm chegado a pedir a alguns de vós para deixardes esta agremiação e irdes para outra; mas também sei que os players do Club Marítimo têm carácter e dignidade, que não se deixam vender por cerveja ou mesmo dinheiro, que nunca serão traidores à sua bandeira ... ".
Resposta à Altura
Dois meses após a viagem do Madeira, o Marítimo confirma a aceitação do convite que lhe fora dirigido por um grupo de madeirenses residentes em Canárias, no sentido de efectuar uma digressão desportiva àquelas ilhas. A partida do Funchal acontece a 16 de Julho.Do grupo que realizou a segunda digressão a Lisboa restam oito elementos: João Pimenta (Galhudo), António Freitas, José Rodrigues (Barrinhas), José Câmara, Francisco Vieira (Rosalina) , Cornélio da Silva, José de Sousa (Patas) e Luís Gouveia (Feijão). Estreiam-se João de Sousa, Luís de Sousa, João de Nóbrega e César da Silva, que é suplente. Gonçalo de Ornelas, o líder do clube, encabeça o grupo de directores que acompanha a equipa. A caravana madeirense é recebida em apoteose. A fama do ‘campeão imbatível da Madeira’ chegara também a Canárias ...
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