sexta-feira, março 05, 2010

100 Verde Rubros Anos - Capítulo II, Parte 4


Fúria Espanhola

Dois empates a zero são os resultados dos encontros realizados. O adversário é, em ambas as partidas, o mesmo – um ‘Misto’ constituído pelos melhores jogadores do Vitória e do Porteño, ambos da ilha de Las Palmas.O primeiro destes encontros decorre num campo pequeno, com piso irregular e pedregoso, ‘adornado’ por postes de linhas telefónicas próximo das grandes áreas; em contraste, o segundo vai acontecer no campo da colónia inglesa na ilha, já com melhorescondições.No primeiro jogo, corolário docomportamento violento dos jogadores canários, Cornélio fractura uma perna; o segundo nem chega ao fim – a assistência exige a vitória da sua equipa e a integridade física dos madeirenses só é assegurada com intervenção policial.Algo surpreendentemente, no campo social tudo corre muito bem.Mas as marcas dos dois jogos são profundas e na passagem por Tenerife, jáiniciada a viagem de regresso, o Marítimo não aceita a proposta de realização de uma terceira partida, contentando-se com a recepção simpática dos desportistas locais.Nos dois anos que se seguem à deslocação a Canárias a actividade do Marítimo reduz-se a desafios com outras equipas regionais e de tripulações dos barcos que nos visitavam. Não há registo ou memória de qualquer derrota.

Fundação da Associação

Entretanto, dá-se início ao processo de constituição da Associação. Humberto Passos Freitas, que já se batera pela ideia em vários momentos, é o principal dinamizador. Em 1916 é presidente do Ateneu, cargo a partir do qual relança a sua ‘velha’ ideia de constituição de uma ‘Liga’ que organizasse e dirigisse o futebol madeirense. José Anastácio Nascimento, agora dirigente do União F.C., é outro dos entusiastas da ideia. Amâncio de Olim Marote, do G. D. Insulano também ocupa um lugar de destaque no processo. Mas o primeiro encontro entre dirigentes dos clubes faz-se sem a presença do Marítimo.

Força Indispensável

Os muitos interessados na constituição da Associação sabem que não podem deixar de contar com a participação do Marítimo. Mas o clube, marcado ainda pelas vicissitudes dos últimos tempos e pelas tentativas de outras entidades – muitas vezes urdidas além do campo de jogo – para destronar a sua supremacia no futebol regional, mais que resistir à ideia, procura precaver-se. Aliás, já em 1911, nos primeiros momentos da tentativa de constituição desse organismo, o Marítimo avançara com algumas condições para se comprometer com o processo – a Direcção da Liga deveria ser composta de elementos estranhos a qualquer clube; deveria ser nomeado um ‘júri’ para resolver qualquer incidente que se acontecesse entre os clubes; os jogadores expulsos de um clube, por qualquer irregularidade, não poderiam ser admitido noutros. Estes cuidados motivaram a ausência do Clube na primeira das nove reuniões que serão necessárias para fundar a entidade de tutela do futebol madeirense. Mas a adesão do Marítimo ao projecto é total e os trabalhos do segundo encontro já são dirigidos por Gonçalo de Ornelas.

Campeão da Madeira

Na época 1916/17 Associação de Futebol organiza o primeiro Campeonato da Madeira, destinado às primeira e segunda categorias. O Club Sport Marítimo sagra- -se vencedor da categoria principal e ocupa o terceiro lugar na segunda. Esta vitória é uma confirmação importante para o clube. Muitos dos que tinham sido anteriormente derrotados pelas suas equipas procuravam os mais variados argumentos para justificar essa invencibilidade do Marítimo frente aos grupos locais. Uns queixavam-se de que não havia ‘jogo limpo’; outros lamentavam-se que o campo era como que a ‘casa’ do Marítimo; havia ainda alguns que não vislumbravam respeito pelas regras. As lamúrias eram, de facto, muitas. A conquista deste primeiro Campeonato veio demonstrar a validade desses argumentos. A prova fora organizada por uma entidade acima dos clubes, de todos eles representativa e zeladora da aplicação das regras em vigor. A sucessão e condições de realização dos jogos fora pré-estabelecida e do conhecimento de todos. O local das disputas – o campo Almirante Reis – estava ao dispor de todos e a todos pertencia.

Título da Confirmação

Então, se estavam ultrapassadas as razões a que alguns atribuíam a superioridade do Marítimo, porque ‘artes’ voltou a sua equipa a manter-se invencível? A conquista do mesmo título de Campeão na época seguinte serviu para retirar as dúvidas e esclarecer os mais teimosos. Mas houve, naturalmente, quem quisesse mais provas ... Há um grupo de bons jogadores na classe dos tipógrafos? Cria-se o ‘Núcleo Desportivo Tipográfico’ e desafia-se o Marítimo! Resultado: 4-0, para o Marítimo. Há muitos jogadores de qualidade com o apelido Costa? Forma-se o team ‘Onze Costas’ e desafia-se o Marítimo! Resultado: 8-0, para o Marítimo. Ah! Ainda faltam os ‘Fabricantes de Calçado’, um grupo valente que também pode desafiar o Campeão. Resultado: 4-1, para o Marítimo.

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