Campeão de Portugal
Confirmando as potencialidades evidenciadas pelas suas equipas ao longo dos tempos, o Marítimo vai alcançar, na época 1925/26, aquele que ainda hoje é considerado o maior feito desportivo alguma vez interpretado por uma equipa madeirense – a conquista do título de campeão de Portugal de futebol. Campeão da Madeira pela quinta vez consecutiva, o clube caminha para a conquista do título máximo do futebol português com confiança. Essa confiança baseava-se na certeza de que a sua equipa de Honra seria capaz de fazer frente a qualquer formação continental. E ainda na profunda convicção de que os intensos e arriscados preparativos que vinham marcando a actividade da equipa nas últimas épocas conduziriam a resultados positivos. Dentro dos campos em que se jogou essa conquista – do apuramento do campeão da Madeira ao título de campeão nacional – o Marítimo sofreu para vencer. Não admira que assim tenha sido. Os adversários locais melhoravam a sua actividade, com o objectivo legítimo de alcançarem os títulos que o Marítimo tradicionalmente conquistava. A nível nacional todos os contendores já tinham conhecido, nas mais diversas formas, momentos e circunstâncias, o valor do futebol do Marítimo. Sabiam que a todo o momento as derrotas anteriores poderiam ser transformadas em vitórias .
Passaporte à Mão
Passaporte à Mão
A conquista do título de campeão da Madeira de 1925/26, terá sido uma das mais difíceis, entre todas as alcançadas pelo Marítimo até então. No final da prova, Marítimo e União têm o mesmo número de pontos. É necessário realizar um jogo ‘extra’ para determinar quem será o vencedor. Joga-se uma partida emocionante, vivida intensamente, dentro e fora das quatro linhas, até ao último momento. Até esse último momento, o União esteve a ganhar. Mas faltava o tempo suficiente para um golo ‘milagroso’. Acontece um ‘despejo’ para cima da baliza do União. António Alves e José Ramos (Zé Pequeno) lançam-se à bola, fazendo-a entrar na baliza. Os jogadores do União reclamam ‘mão’ de Zé Pequeno. Mas o árbitro não vislumbra qualquer irregularidade e sanciona o tento. Vai-se para prolongamento. O Marítimo vence por 3-0. O União protesta e recorre para a direcção da Associação de Futebol. Nada feito – o golo fora validado pelo árbitro. Não havia mais nada a acrescentar – o campeão era o Marítimo.
Meia-Final com o Porto
... E a 14 de Maio de 1926, a bordo do vapor ‘S. Miguel’, o Marítimo parte para aquela que será a sua quarta presença no campeonato de Portugal. O presidente da direcção, Joaquim Quintino Travassos Lopes, e o vogal João de Araújo, dirigem a caravana. No jogo da meia-final vão encontrar-se Marítimo e Porto, campeões da Madeira e do Norte, respectivamente. O jogo disputa-se no Campo Grande, em Lisboa, arbitrado por Ilidio Nogueira. A outra meia-final opõe, no campo do Ameal, no Porto, os campeões de Lisboa e do Sul, respectivamente Belenenses e Olhanense. O Diário de Notícias de Lisboa diz, na sua edição de 23 de Maio de 1926 que a equipa nortenha "é entre todos o melhor favorito. É o actual detentor do título e o único dos clubes portugueses que tem participado em todos os campeonatos já realizados". Ao Marítimo é reconhecido que em todas três participações anteriores na prova "tem sido manifestamente infeliz". E questiona: "Sê-lo-á hoje mais uma vez? Desconhecem-se um pouco as suas possibilidades; e do jogo que vai travar com o Porto, sabe-se apenas que este último deve ser um adversário difícil".
Vitória esclarecedora
Confirmando as vitórias alcançadas anteriormente, aquando das visitas ao Porto, o Marítimo vai alcançar a sua mais expressiva vitória de sempre sobre tão categorizado adversário: 7-1. Os golos que tornaram real o sonho de disputar a final foram marcados por António Alves (3), Manuel Ramos (Janota) (2), José Ramos (Zé Pequeno) e António Teixeira ‘Camarão’ (1 cada). O Marítimo realizou um jogo soberbo. "O resultado que o marcador acusa é um perfeitíssimo reflexo da superioridade que (...) os funchalenses tiveram sobre os campeões de Portugal na época transacta. O tremendo azar que os rapazes do Funchal têm tido nos anos anteriores teve ontem a sua recompensa, um prémio que nem por parecer demasiadamente valioso, não deixa de ser justo", escreve-se n´‘Os Sports’ no dia seguinte. A crónica de Ricardo Ornelas, que descreve exaustivamente os principais lances da partida, termina com um apontamento curioso: "O público esteve francamente madeirense. A princípio instigou a ‘vontade’ dos ilhéus; no fim, premiou-os largamente pelo seu trabalho. Esta alma das multidões, há-de ser sempre insondável ..."
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