Siska e o àrbitro
Confirmando as vitórias alcançadas anteriormente, aquando das visitas ao Porto, o Marítimo vai alcançar a sua mais expressiva vitória de sempre sobre tão categorizado adversário: 7-1. Os golos que tornaram real o sonho de disputar a final foram marcados por António Alves (3), Manuel Ramos (Janota) (2), José Ramos (Zé Pequeno) e António Teixeira ‘Camarão’ (1 cada). O Marítimo realizou um jogo soberbo. "O resultado que o marcador acusa é um perfeitíssimo reflexo da superioridade que (...) os funchalenses tiveram sobre os campeões de Portugal na época transacta. O tremendo azar que os rapazes do Funchal têm tido nos anos anteriores teve ontem a sua recompensa, um prémio que nem por parecer demasiadamente valioso, não deixa de ser justo", escreve-se n´‘Os Sports’ no dia seguinte. A crónica de Ricardo Ornelas, que descreve exaustivamente os principais lances da partida, termina com um apontamento curioso: "O público esteve francamente madeirense. A princípio instigou a ‘vontade’ dos ilhéus; no fim, premiou-os largamente pelo seu trabalho. Esta alma das multidões, há-de ser sempre insondável ..." Ambas ajudam a perceber como aconteceu o triunfo madeirense.
"O Porto perdeu (...) sem discussão. Dos seus onze homens só um se notabilizou, só um mereceu palmas que não foram regateadas e esse um, insuficiente para afirmar uma équipe, por mais brilhantes que sejam as suas qualidades, foi Siska. O Porto ficou assim devendo ao seu keeper o não ter sofrido uma derrota ainda mais expressiva (...)". "Ilídio Nogueira arbitrou mal, francamente mal. Prejudicou o Marítimo. O goal do Porto devia ter sido anulado por incorrecção de Balbino. Uma bola do Marítimo foi anulada por deslocação que jamais existiu. Na grande área do Porto fizeram-se vários fouls e nem um só foi castigado".
A Outra Meia-Final
A outra meia-final disputou-se, como já se disse, entre Belenenses e Olhanense. O jogo teve lugar, no mesmo dia 23 de Maio e terminou com a vitória da formação lisboeta, por 2-1. Apesar de fazer a sua estreia no campeonato de Portugal, o Belenenses alcançou uma vitória justa. No entanto, embora a vantagem no final da primeira parte (1-0) tenha sido ampliada no início do segundo tempo, os belenenses viriam a sentir grandes dificuldades para evitar o empate que o adversário procurou afincadamente após ter reduzido a desvantagem (75 m). O público nortenho fez claque pela formação algarvia. Uma posição que O ‘Notícias Desportivo’ explica assim: "Os olhanenses captaram as simpatias do público por serem mais correctos do que os belenenses, e além disso resistiram muito mais".
Simpatias e Locais
A questão das simpatias do público eram, à data, tidas como elemento que podia condicionar seriamente o jogo das equipas. Havia mesmo exemplos de caricata recusa de presença em jogo oficialmente marcado, só por se admitir que o público poderia deixar de ser ‘imparcial’, isto é, poderia tomar partido por uma das equipas em presença. A experiência acumulada pelos directores da União Portuguesa de Futebol, recomendava, para mais numa prova disputada em eliminatórias de um só jogo, que esta questão fosse tratada de modo adequado, atempado e conveniente. E assim foi feito. Antes do início da fase final da prova, ficou estabelecido que as cidades onde se realizaria a final do campeonato seriam as seguintes: Lisboa – para o caso dos finalistas serem Algarve e Funchal ou Algarve e Porto; Santarém – para o caso Lisboa e Porto; e Porto – para o caso Lisboa e Funchal.
Polémica Azul
Tudo claro, menos para ... o C.F. Beleneneses, que vai opor-se à realização do jogo na cidade do Porto, conforme decorria da referida e atempada decisão da direcção da União. A primeira das razões dessa oposição tinha a ver com o convencimento de que, jogando na capital do Norte, teria sempre de contar com a animosidade do público, tal qual acontecera no jogo da meia-final, frente ao Olhanense. O segundo argumento lisboeta apontava para a previsão ‘natural’ de que esse mesmo público, além de se lhe opor, colocar-se-ia do lado do Marítimo, numa atitude que se entenderia no quadro das rivalidades Lisboa-Porto; as gentes nortenhas prefeririam sempre uma vitória da ‘Ilha’. A vitória da meia-final, sobre o Olhanense, com o público ao lado dos algarvios, poderia ajudar a refutar as ideias ‘azuis’. Mas lá persistiam.
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