quarta-feira, abril 14, 2010

100 Verde Rubros Anos - Capítulo V, Parte 4


Consequências nefastas

Não ter reconhecido legitimidade à direcção associativa para organizar as provas oficiais e ter acreditado que a resolução federativa lhe seria favorável, foi um tremendo erro. Impunha-se o reconhecimento da necessidade das provas se realizarem dentro de determinados prazos. E o bom-senso de que não bastava ter razão – era de todo conveniente que a ela ficassem cativos aliados fortes. Incluindo antigos e actuais dirigentes, jogadores e sócios do clube, que reagem com perplexidade à situação para que o Marítimo é conduzido. As consequências viriam a ser (quase) catastróficas. Por ausência, perdem-se os títulos que em campo dificilmente escapariam. Libertam-se jogadores que só pela não comparência do clube aceitam envergar outra camisola. Os sócios criticam a situação. Desanimam. Em menos de um ano, todo o espólio do clube muda de casa por três vezes. E, como golpe final, o campo Almirante Reis é interdito pela Federação, por alegada falta de condições regulamentares. Os adversários põem a correr o boato que o Marítimo ‘fechou’...
Reconstrução

Todavia, tal qual acontecera nos princípios de 1914, vão surgir forças suficientes para evitar a derrocada total. Joaquim da Mota, João de Gouveia, António Nóbrega, Barnabé de Jesus, João da Silva Marques, outros antigos jogadores e até o ‘Francisquinho’, empregado do clube, deitam mãos à reconstrução. Contrariando os que tinham decretado o ‘fim’ do Marítimo. Esse processo vai iniciar-se com ‘um regresso às origens’ – a sede do Marítimo, agora mais modesta e paga com quotização semanal dos que não se deixaram vencer, fica localizada em parte do prédio situado na Rua D. Carlos, 17, onde permanecerá, com diversas adaptações, até à década de 90. Em 1934/35 dá-se o regresso dos verde-rubros ao futebol oficial. Os jogadores que tinham alinhado no ‘Automobilista’ voltam sem qualquer contrapartida, pois a sua inscrição por esse clube fora assim estabelecida previamente. Os que tinham passado pelo União são resgatados a peso de ouro, que força a contracção de um empréstimo para pagar as ‘cartas de desobriga’. Os que tinham vestido a camisola do Nacional ‘aguentam’ uma época sem jogar, para voltarem a ficar livres e regressarem ao seu clube. Os resultados que se vão seguir ainda não são os do ‘campeão’, mas são animadores...
Proeza inigualável
Deste esforço resultou uma façanha de que poucos se podem orgulhar: no final da época 1935/36, o Marítimo regista os seguintes resultados nas provas oficiais da Associação: campeão da Madeira nas categorias de Honra e das Reservas; vencedor da Taça ‘António Costa’ e do Torneio de Classificação ao campeonato de Portugal. Os ‘piores’ resultados são o segundo lugar no campeonato da Madeira da 2ª Categoria e a eliminação da Taça ‘Cândido Freitas’. Nesta época, o União traz o Benfica à Madeira. Os lisboetas ganham três jogos (5-1 ao União, 3-2 ao Nacional e 2-1 ao Marítimo) e perdem um – o último que realizam com o Marítimo (2-0). Em conjunto com os títulos oficiais, esta vitória selou o relançamento total do Marítimo. Não podiam ter sido melhores os festejos das Bodas de Prata. Por isso se lhe juntaram apenas uma exposição dos troféus, a edição de um opúsculo com relato da vida do clube e um jantar de confraternização.
Aumentando O Fosso

Já se sabe que a partir da época de 1939/40 a Madeira deixa de ter acesso ao campeonato de Portugal. As dificuldades de diversa ordem que se levantavam à participação de uma equipa insular na prova regular agora instituída a nível nacional é o precioso ‘argumento’ que faltava para deixar os ilhéus portugueses de fora. O ‘remendo’ foi a Taça de Portugal. O Marítimo encara a solução com desagrado e reserva. Todavia, impotente para definir uma outra solução, assume a luta pela participação possível com todas as suas energias. Sem esquecer, todavia, que o afastamento de um campeonato ‘nacional’ regular iria estrangular a ambição que sempre caracterizara a sua actividade, e permitir que adversários, até então do mesmo plano, tivessem, agora, meios de desenvolvimento que não eram proporcionados ao futebol madeirense. Para mais, o eclodir da II Grande Guerra vai levar a que esse direito de participação na Taça de Portugal venha a ser declarado suspenso pela Federação em 1941/42. O Marítimo vê a sua actividade confinada às provas regionais. Só em 1947/48, após sete anos de interrupção, é reatada a presença madeirense a nível nacional. Através do Marítimo, qualificado para a prova.

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