Querido Club Sport Marítimo,
Ainda não fazia ideia do que era futebol, mas já sabia que gostava de ti.
Lembro-me de percorrer a arrecadação de ferramentas do meu avô materno Alexandre e de ficar longos minutos a olhar para os quadros bolorentos, já quase sem cor, das grandes equipas que defenderam o teu nome em décadas já distantes, quase todos homens madeirenses de ar rude que jogavam à bola equipados com as nossas cores verde-rubras, cores dos ares republicanos que pairavam em Portugal em 1910. Como adorava o nosso leão dentro do leme que simbolizava os nossos primórdios, a raça de homens madeirenses, homens simples do mar que desafiavam ingleses ricos, éramos imbatíveis, viesse quem viesse. Éramos e somos os endiabrados, campeões das ilhas!
Lembro-me das histórias do velho Alexandre, as histórias de quando jogávamos no regional, porque o Estado Novo não permitia que tu jogasses no continente, das rivalidades com o União da Bola e as zebras do Nacional, de quando subimos à I Divisão em Maio de 1977, nesse dia o meu avô invadiu o nosso querido Caldeirão dos Barreiros por cinco vezes junto com a multidão, logo o meu avô Alexandre que foi sempre um homem sóbrio, de poucos sorrisos.
Não sei bem quando fui pela primeira vez ao nosso estádio, mas houve uma tarde de chuva em que ganhámos ao Desportivo de Chaves por 2-1, passei o jogo às cavalitas do meu pai. É das melhores recordações que tenho do meu pai, obrigado Marítimo, fomos encharcados para casa, mas eu e o meu pai íamos felizes por teres ganho nesse dia.
Dez anos passaram desde que brincava com uma lata de refrigerante com outros meninos da minha idade no antigo peão e comia gelados pagos pelo meu avô até aos dias em que passei a ir com os meus amigos que também gostam muito de ti, religiosamente em todos os dias de jogo, nas tardes quentes de Domingo ou nas noites chuvosas do nosso Funchal natal. Como ficávamos arrepiados quando tocava a Marcha em tua honra. Nunca te assobiamos, porque não se assobia alguém da família, e tu fazes parte da nossa família Marítimo.
Peço-te desculpa por todos os vira-casacas que apoiam-te sempre, mas que às vezes torcem por outros clubes que nada têm a ver com as nossas gentes, eles sabem lá o que é um clube grande, sabes bem que tu também o és, e para muitos de nós, 100 vezes maior! Nós não te traímos, acreditamos na fidelidade. Nunca caminharás só!
Fazes 100 anos hoje, estás a ficar velhinho, o meu avô tem 85, o meu pai 44, e eu 23, e como vês és consentâneo em todas as gerações, intemporal. Mesmo que às vezes estejamos desiludidos com os resultados, sabemos bem que a culpa não é tua, mas sim daqueles que não sabem defender-te como deviam e como mereces, mas de ti Marítimo, vamos gostar sempre, todos os nossos dias da nossa vida. E os nossos filhos saberão que os seus antepassados também vibraram, choraram e gritaram por ti. Como vês, és muito mais que um clube da bola, és a nossa família, a minha e a de muitos outros madeirenses, porque "pertencer ao Marítimo é ser duas vezes madeirense ".
Feliz Aniversário nosso querido Club Sport Marítimo pelo teu século de vida, se não nos vermos daqui a outros 100 anos, alguém com o meu sangue o fará por mim, pelo meu pai, pelo meu avô, com orgulho e altivez!
Muitas felicidades e até sempre!
O teu amigo, Hélder Teixeira
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