Não sou chauvinista. E, para ser franco, estou-me bem nas tintas se ousarem dizer que o sou. Mas a ocasião pede que ignore Hushovd, Evans, Contador, Vinokourov, os irmãos Schleck, Gesink ou mesmo Van Garderen. Foi um português, um jovem português, que trilhou o caminho de Aigurande até Super-Besse Sancy de forma brava e meritória, arrebatando a maior vitória da sua ainda curta carreira.
Rui Costa, de 24 anos, foi certeiro no dia que “escolheu” para integrar uma fuga. Teve a arte e o engenho de responder nos momentos certos aos seus companheiros de escapada, sobretudo ao norte-americano Tejay Van Garderen (HTC-Highroad) e foi a personificação do estoicismo ao resistir nos últimos quilómetros à aproximação do pelotão – onde vinham todos os tubarões, excepto Gesink – e, principalmente, do sequioso Vinokourov.
O triunfo do corredor da Póvoa do Varzim, actualmente ao serviço da espanhola Movistar, voltou a revelar a necessidade latente que nós portugueses temos de ser bem sucedidos. Lidamos muito mal com a mediocridade e com o insucesso e só nos conseguimos reunificar em prol de causas que encaremos como nossas ou que, pelo menos, elevem o ego do nosso (in)consciente colectivo.
Feliz ou infelizmente, este acaba por ser o efeito ilusório, qual panaceia dos males do mundo, que o desporto comporta. E, por muito que os detractores da nação e os críticos das diversas modalidades desportivas, insistam recorrentemente em desvalorizá-lo, a verdade é que nunca se vislumbra tanta união entre nós como nestes momentos. Roem-se as unhas, dão-se as mãos, pede-se ao primo mais pequeno que faça pouco barulho, deixa-se cair a bolacha no sofá ou vai-se celebrar com o vizinho os momentos subsequentes a um sucesso que acaba por ter tanto de nosso como de quem efectivamente o conseguiu. E isto, meus senhores, não há agência de notação financeira que possa avaliar ou instituição internacional que consiga mensurar.
Os sintomas que descrevi são relativamente simples e reflectem uma doença de que padeço: a lusitana paixão.
Bem-haja, Rui!
Octávio Lousada Oliveira
Publicado em 2011.
Publicado em 2011.
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