Caminhada Gloriosa
No início da década de 20 o orgulho verde-rubro estava ferido. Mas o motivo mais próximo dessa ferida – a perda do título de Campeão da Madeira em 1920/21 para o rival União – não foi o ponto final de uma caminhada ou a desilusão de um sonho que se acaba. Bem pelo contrário, constituirá o momento de partida para novas e mais arrojadas empresas, sempre sujeitas ao ideal de manter o Marítimo na primeira linha das conquistas regionais e nacionais. Entre 1921/22 e 1926/27, o clube conquista seis títulos consecutivos de Campeão Regional, o que lhe permite participar no Campeonato de Portugal, a partir de 1922/23, por cinco vezes consecutivas, em representação da Madeira. Esta participação, passa a merecer os principais esforços do Clube. Percebe-se bem porquê. À altura não havia nada, absolutamente nada, que impedisse o Marítimo de se confrontar em pé de igualdade com os campeões regionais da parte continental do país. Nem de alimentar a ideia de que as maiores proezas estavam ao seu alcance. Sempre na mira de honrar o nome da Madeira e orgulhar o seu Povo. A renovação do quadro directivo, que vai passar a ter a liderança de Joaquim Travassos Lopes precisamente a partir da época de ‘entrada’ no Campeonato de Portugal, a estabilidade e a qualidade da equipa de Honra, renovada e servida de novos elementos, o aumento significativo do número de sócios, a par do progresso geral do desporto madeirense verificado na década, são os principais ingredientes deste percurso coberto de glória.
Reconquista do Título
A reconquista do título de Campeão da Madeira de 1921/22 é um feito desportivo de extrema importância para o Marítimo. Prova mais importante da competição futebolística regional, ao vencedor cabem, mais que o título, os louros e a fama de melhor equipa madeirense. A verdade é que estes ‘louros’ estavam em aberto, dada a perda do campeonato da época anterior. E como o campeão em título era o União, afigurava-se importante não ceder mais terreno para um adversário que cometera a proeza de, apesar de tudo, ser o primeiro clube madeirense a derrotar o Marítimo dentro de campo. E ser capaz de repetir a façanha ... Esta reconquista do título de campeão da Madeira não é um facto isolado. Toda a actividade do clube está a ser transformada. Daí também a necessidade de outro espaço de funcionamento. Encontra-se uma nova sede (Rua de Santa Maria, 126), No primeiro andar ficam a sala de visitas e a biblioteca; no segundo andar instalase o gabinete da Direcção, a sala de jogos, bilhar, vestiário, balneário e equipamento. O espaço tinha sido disponibilizado ao Marítimo pelos irmãos Venâncio. Coube a Abel Romão Gonçalves dirigir as adaptações.
Benfica na Madeira
Pode considerar-se que o arranque das sucessivas iniciativas que vão colocar o Marítimo no topo do futebol nacional, dá-se com a organização da vinda do Sport Lisboa e Benfica à Madeira, na Páscoa de 1922. Abel Romão Gonçalves desempenha um papel primordial no processo, assumindo com António Vieira de Castro, do Madeira, o risco dos eventuais prejuízos de uma visita mal sucedida do ponto de vista financeiro. A 7 de Abril o Benfica desembarca do vapor Funchal. A comitiva lisboeta instala-se no Hotel Europa, inaugurado nesse mesmo dia. Mais para a zona leste da cidade a azáfama também é grande – o campo Almirante Reis está vedado com panos encerados, tem bancadas e o piso cuidado. As entradas para os encontros com o campeão de Lisboa serão pagas. O entusiasmo é enorme. A cidade ‘desportiva’ fervilha. O Benfica era um clube em crescimento, com jogadores afamados e dispunha de muitas simpatias por todo o país. A sua presença na Madeira não podia deixar de ter outro efeito, tanto mais que desde a deslocação do Marítimo a Lisboa, em 1912, se ansiava pela retribuição.
Saborosas Vitórias
O Benfica realiza quatro jogos no campo Almirante Reis. Nos dois em que enfrenta o Marítimo é derrotado por 3-2 e 6-3. Nas outras duas partidas, as vitórias sorriem-lhe: 1-0 sobre o Madeira e 6-1 sobre um ‘Misto’ da Associação de Futebol do Funchal. Um quinto jogo terá lugar no Campo da Achada, com nova vitória continental sobre um ‘Misto’ Madeira-Santa Clara, por 4-0. A formação do Marítimo que enfrentou o Benfica na Páscoa de 1922.
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