Triunfo Africano
O campeão de Portugal, das Ilhas e da Madeira, vividos que estavam os seus primeiros 40 anos, interpreta uma das mais fantásticas digressões alguma vez realizada por um clube português. Estamos em 1950. O pretexto é levar o abraço da terra- -mãe aos colonos madeirenses que se tinham espalhado pelas terras africanas de Angola e Moçambique. Mas se esse era o pretexto, a razão de fundo inscrevia-se na tradicional apetência do Marítimo para ultrapassar os limites da insularidade e demonstrar, pelo seu futebol, que aqui vivia gente capaz das maiores proezas, a tanto lhe fosse dada oportunidade. Serão 70 dias fora da Ilha, fazendo matar a saudade dos que tinham partido em busca de melhor vida. Mas nem por isso se baixará a bandeira verderubra. Em 13 jogos, alcançam- -se 12 vitórias e apenas por uma vez os madeirenses conhecerão a derrota. É verdade que nem todos os opositores tinham atingido um nível futebolístico apreciável. Mas também é verdade que, quando em confronto com o Marítimo, são derrotadas formações que anteriormente se ti-nham imposto a outros clubes da parte continental do país. Na chegada ao Funchal, a 4 de Novembro, a cidade vai viver momentos idênticos àqueles de quando o Marítimo conquistou o título de Campeão de Portugal. A cidade enche-se de gente e alegria, para glorificar o triunfo africano. E canta-se, pela primeira vez, a marcha mais conhecida do clube: ‘Lá vêm, lá vêm, os nossos ‘maravilhas’, os ‘endiabrados’, campeões das Ilhas ...’
Preparativos
Preparativos
A digressão do Marítimo a África começou a ser preparada com praticamente um ano de antecedência. A ideia original do Futebol Clube de Luanda, em Novembro de 1949, é a organização de uma deslocação a Angola, a ficar mais ou menos confinada à zona de Luanda. A evolução das negociações entre as partes permitiu chegar a um acordo mais vasto, que fará o Marítimo chegar à costa oriental africana, visitando Moçambique, bem como alargar os planos iniciais a mais regiões angolanas. Todos os pormenores merecem a melhor das atenções. Ficam estabelecidas as responsabilidades das partes envolvidas e nas cidades a visitar são organizadas ‘comissões de honra’, responsáveis pela recepção e instalação Cumprida a missão em Moçambique, a caravana verde-rubra inicia o regresso a Angola. O destino mais exacto é Nova Lisboa, no planalto de Benguela, onde a 21 de Setembro se realiza um jogo entre a da caravana madeirense, bem como pela organização dos programas desportivo e social.
Marítimo Reforçado
A 26 de Agosto, a caravana madeirense embarca no vapor Moçambique. É composta por 22 elementos. Só três não são jogadores – o padre Telésforo Rafael Afonso, Adelino Rodrigues e Francisco Silva; os dois primeiros são dirigentes do clube; o terceiro é o massagista e homem responsável também pelos equipamentos. Dos 19 jogadores, dois não pertencem aos quadro do Marítimo: João Maciel e António Correia. O primeiro é açoriano, guarda-redes do Micaelense F.C.; o segundo é médio e alinha no Sporting Clube da Madeira. Ambos integram a caravana com autorização dos respectivos clubes. Os 17 verde-rubros de ‘raiz’ que entraram no ‘Moçambique’ eram Armando Silvestre Silva, Américo Teodoro Fernandes, Francisco Rodrigues (Tabaca), Jaime Freitas Sousa (Albino), João Correia (Calinhos), José Santos Viveiros (Farruca), José de Abreu (Checa), António Alves Tremura (Chino), Raúl Alves Tremura, Eduardo Vicente da Silva, Eduardo Silvestre de Sousa (Joanito), Alberto Gomes Carvalho (Faiamane), Ernesto José Gomes Silva, Mário da Paixão, Fernando Rodrigues (Gato), Joel Casimiro Ferreira e Elisiário Lucas Oliveira (Titaia).
Para Moçambique
A comitiva madeirense chega a Luanda a 5 de Setembro, dez dias após a partida do Funchal, já depois de ter feito escala em São Tomé. Dois dias depois, chegará a Moçambique, para cuja capital viajou de avião a partir da capital angolana. A breve estada em Luanda envolve a caravana de carinho e atenções. Mas no plano organizativo as coisas não começam da melhor maneira – a disponibilidade da lotação do avião que leva os madeirenses para Moçambique obriga a que dois jogadores tenham de ficar em Luanda. A difícil escolha recai sobre Mário da Paixão e Alberto Gomes Carvalho (Faiamane). À chegada a Lourenço Marques um numeroso grupo de madeirenses radicados na colónia faz, da sessão de boas-vindas ao Marítimo, uma festa. Em abraços e palavras emocionadas matam-se saudades da terra.
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