domingo, maio 02, 2010

100 Verde-Rubros Anos - Capítulo VI, Parte 4


Luanda de novo

No regresso a Luanda, o Marítimo prepara a realização do seu décimo jogo ‘africano’. O adversário será o Sporting Club de Luanda, a agremiação desportiva mais popular da capital angolana. O jogo realiza-se a 8 de Outubro. A vitória do Marítimo é volumosa (6-1), mas só consolidada na parte final da partida, quando os locais acusam o desgaste que a mais valia dos verde-rubros desencadeara. O jornal ‘Goal’ publica, a propósito desta partida, o seguinte comentário:
"O Marítimo, com este seu segundo jogo na capital, confirmou a excelente impressão que nos havia deixado aquando da sua estreia com o ‘Ferroviário’. A equipa movimenta-se dentro de um sistema muito correcto, que lhe advém da muita coadjuvação dos seus três sectores, cada um deles sabendo o que tem a fazer, e como fazê-lo. Assegurada uma vantagem, que não dava margem a qualquer espécie de preocupação, os madeirenses entraram a dar à partida o jeito de puro exibicionismo, fazendo alarde de uma série de passes de unidade para unidade, sem que os adversários, nalguns desses lances, conseguissem tocar o esférico. Enfim, exibição para o público, e a verdade é que o público gostou. (...) Não queremos fechar estes comentários, sem pôr em evidência o alto espírito desportivo de todos os elementos do simpático clube madeirense têm primado por exteriorizar nas competições em que tomam parte. O Marítimo é, realmente, uma esplêndida «Escola» de homens atletas e de verdadeiros desportistas."
Bandeira da Madeira

Sá da Bandeira foi construída por colonos madeirenses, ali chegados em 1884. À data da sua visita à região, o Marítimo encontra, entre os residentes, alguns desses primitivos colonos. Mas a vida por aqui já pulsa principalmente com a actividade da segunda e terceira gerações desses madeirenses. Serão dias de emoções fortes, estes de reencontro entre filhos da mesma terra, seres humanos com as mesmas raízes. Entre os residentes, há alguns que da terra-mãe já só têm a imagem de um passado longínquo; a maioria, dela só tem conhecimento pelos relatos dos progenitores. Daí que o grupo verde-rubro seja, neste momento da digressão mais que em qualquer outro, o embaixador da Madeira. As saudades da terra-mãe já tomaram conta de todos. Os que foram em visita, fora de casa vai para dois meses, também sofrem do mesmo mal. E bastou encontrarem do outro lado o mesmo sotaque, os mesmos jeitos, as memórias dos mesmos lugares, para que entre as partes se misturassem as palavras com as lágrimas.
Memória e Honra

Na manhã do dia 15 de Outubro, a generalidade dos habitantes de Sá da Bandeira dirigem-se em massa para um local chamado ‘Barracões’, onde será rezada uma memorável missa pelo padre Telésforo. Este fora o local onde os primitivos colonos se tinham estabelecido, concluída a exaustiva viagem que os levava à procura do sonho, ali montando os barracões que lhes deram guarida pelos primeiros tempos. Com os tempos, os ‘Barracões’ tinham- se transformado em sítio de romagem dos residentes. A presença da delegação do Marítimo neste sítio tinha uma carga simbólica muito forte. A forma exemplar como todos vão cumprir esse dever constitui uma das mais belas páginas de todo o périplo africano.
Jogadores cantam missa

A equipa do Marítimo acompanha com cânticos a missa rezada pelo padre Telésforo. A sua homília toca no fundo das emoções de todos os participantes. No fim, todos querem estar junto da comitiva, trocando palavras comoventes e enxugando lágrimas de uma amarga e saudosa felicidade. Com a mesma solenidade com que Raul Tremura, capitão da equipa do Marítimo, depusera, na véspera, um ramo de flores no monumento ao madeirense D. José da Câmara Leite, o líder da colonização, no final da missa a equipa verde-rubra, acompanhada pelos presentes, vai depositar flores sobre a campa comum dos colonos já falecidos. Como nota final desta estada em Sá da Bandeira registe-se que também se efectuaram dois encontros de futebol. O Marítimo venceu ambos com naturalidade. Ao ‘misto’ local impôs um pesado 11-1; à selecção da cidade venceu por 6-1.

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