Luanda por fim
Cumprida o mais belo de todos os momentos da digressão, a caravana verde-rubra regressa a Luanda. O longo período de afastamento de casa e a intensidade da actividade desenvolvida nos últimos dois meses recomenda uma pausa. E a equipa fica uma semana de descanso na capital angolana. A 22 de Outubro realiza-se, por fim, o último jogo da digressão. É a décima terceira partida. O adversário é tido como o mais poderoso de todos quantos foram enfrentados até aqui – a selecção de Luanda. Mas o Marítimo não merecia que o encerramento da digressão acabasse com outro resultado que não fosse uma vitória. E assim aconteceu, por 3- 1. Foi uma partida difícil, mas o triunfo verde-rubro, que encheu de orgulho os madeirenses residentes na cidade, é incontestável. Este encontro foi antecedido de um jogo entre o Futebol Clube de Luanda e uma equipa de madeirenses residentes, reforçada por quatro verderubros: Eduardo Vicente da Silva, Fernando Rodrigues, Ernesto José Gomes Silva e Joel Casimiro Ferreira. O resultado foi de um empate a duas bolas.
Momentos Finais
No intervalo da partida, é descerrada uma placa no Estádio Municipal, na qual o principal organizador da digressão manda inscrever: ‘A convite do Futebol Clube de Luanda, deslocou- se a Angola e Moçambique, o Club Sport Marítimo do Funchal. Set/Out/1950’. Na noite desta última partida acontece o banquete de confraternização, que junta mais de duzentos participantes. As palavras de simpatia que cobrem a delegação verde-rubra são entusiasticamente aplaudidas pelos mais diversos representantes da administração da colónia. A noite acaba com uma ‘queima de fogo’ a partir das janelas do Hotel Lisboa, onde o Marítimo está hospedado e onde decorreu o banquete. Nas véspera da partida a festa continua. Um «Madeira de Honra», oferecido pelo Clube Ferroviário de Luanda, e uma festa de despedida, que integra a exibição de um grupo de folclore da terra-mãe, realizada no Centro Madeirense, contribuem para unir ainda mais os laços das amizades já estabelecidas.
Registos Históricos
A 26 de Outubro, dia do início do regresso à Madeira, o ‘Diário de Luanda’ regista:
‘Regressa hoje ao Funchal a embaixada do Club Sport Marítimo, após a jornada triunfal por terras de Moçambique e Angola, onde obtiveram merecidas vitórias nos jogos de futebol. Foi a turma desportiva mais disciplinada e mais bem comportada que nos tem visitado. Esta é a opinião unânime, tanto da Imprensa como do público, e dos meios ligados ao desporto angolano. Os jogadores do Marítimo distinguiram- se pelo seu aprumo, pela sua irrepreensível presença nos campos de jogos, pela sua extrema correcção e lealdade. A sua passagem por estas terras fica bem assinalada na História do Intercâmbio Desportivo."
Numa síntese da digressão, o ‘Província e Angola’ escreve:
‘Os madeirenses retiram com uma bela página para a história do seu futebol. Uma derrota apenas, e essa pela tangente, em treze desafios. Foi magnífica, sob todos os pontos de vista, esta viagem do Marítimo. Por toda a parte, os madeirenses lutaram com cavalheirismo e entusiasmo, dando às gentes das Colónias uma bela lição de desportivismo. Foi, sem dúvida, esta uma das melhores equipas que nos visitaram. Não houve da sua parte senão a preocupação de realizar exibições de agrado, que confirmassem o valor do grupo. Estão, pois, de parabéns, tantos os organizadores como o clube visitante.’
Por seu turno, o ‘Comércio de Angola’ comentou:
‘Nesta colónia, os rapazes madeirenses souberam conquistar a simpatia de todas as populações que visitaram. As massas desportivas forma unânimes em proclamar a sua correcção dentro do rectângulo. Os críticos de futebol refiram-se elogiosamente à classe do seu jogo. E as restantes gentes que com eles privaram mais de perto, não diferem na maneira como apreciaram a sua conduta irrepreensível. Nenhum incidente a desmanchar o conjunto harmonioso da sua passagem por Angola. Nenhuma bravata a deslustrar a invicta caravana que por mais de uma vez foi homenageada nesta capital, homenagens sinceras e vibrantes, em que confraternizou toda a alma lusíada ...’
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