domingo, junho 13, 2010

100 Verde-Rubros Anos - Capítulo VIII, Parte 6


Nada de fusões

A 1 de Setembro deste mesmo ano, Vítor Santos, chefe de redacção d´ ‘A Bola’, dá uma entrevista ao Diário de Notícias do Funchal, abordando a problemática da participação da Madeira no campeonato nacional de futebol. Destacando o facto do futebol madeirense se ter atrasado em relação ao continental, no qual se dão os passos decisivos para a total profissionalização, o conceituado analista ‘põe o dedo em várias feridas’:
"O caso da Madeira, não sendo de fácil solução, é todavia susceptível de resolver-se num futuro não muito distante. Até porque, em certa medida, é um caso particular. E os casos particulares requerem soluções particulares também. Para tanto, o Passado Histórico do Futebol da ilha pode ser decisivo e determinante dum certo movimento de solidariedade. Depois, a proximidade relativa do continente, que dista apenas uma hora e pouco de voo, encoraja qualquer iniciativa. (…) Eu não sou, por princípio, contrário às fusões. Simplesmente a experiência mostra que os movimentos que nesse sentido foram empreendidos em Portugal, resultaram no mais desolador dos malogros. (…) No caso concreto da Madeira não preconizaria uma vez mais a fusão dos clubes principais para formar uma equipa representativa. Não. Não sou madeirense, mas prezo demais o passado histórico das colectividades da nossa terra, para contemporizar com tal movimento. Não digo que não resultasse a princípio. Há sempre a psicose da novidade … Mas, em breve, entrarse- ia numa rotina, numa letargia ainda maior. Nada de fusões portanto. A representação da Ilha estaria a cargo da colectividade local que conquistaria em campo a honra de se bater pela sua terra e ser integrada num Campeonato Nacional. (…) Custar-me-ia imenso que uma equipa da ilha, descendente em linha directa dos homens de 1926, tivesse de conquistar na 3ª Divisão uma posição a que então logrou alcandorar- se depois de desbancar os melhores conjuntos nacionais. Seria iníquo. (…) É uma «cartada» que merece ser jogada e, a virem a coroar-se de êxito tão louváveis intentos, lucraria o futebol madeirense. Talvez se rasgassem novos horizontes para as equipas locais, e o próprio público seria beneficiado (…). Reflexamente, o próprio turismo da ilha seria incrementado. Sabe-se que o desporto é, na hora que passa, o melhor veículo de propaganda turística. A afirmação não necessita ser justificada, mas, se tal se tornasse necessário, havia uma mão cheia de exemplos a citar. E o turismo da Madeira, que tem sido um turismo de luxo, via assim uma porta aberta para a democratização que, mais dia, menos dia, terá de ser seriamente encarada. (…)"
Nada de fusões (continuação)

Emanuel Freitas, capitão desta equipa do Marítimo que vem recolocando o clube no lugar do futebol madeirense que por tradição lhe pertence, é também indagado sobre esta questão da participação madeirense num campeonato nacional. A palavra do ‘capitão’ não podia ser mais esclarecida, quando lhe perguntam se gostaria de ver a Madeira representada por um clube nas provas nacionais:
"Se gostaria! Mas que eu fizesse parte, se tivesse valor para isso. De preferência o Marítimo a qualquer outro, porque já tem o seu nome feito lá fora, como tive oportunidade de verificar nos dois anos que residi em Lisboa".
É por esta altura que Ilídio de Sousa (Petita) é transferido para o Vitória de Setúbal. O delegado do clube sadino viera à Madeira, participara no jantar das comemorações de mais um aniversário do Marítimo e regressou ao continente com o contrato assinado daquele que ia sendo avaliado como um dos melhores rematadores do futebol português.
Mais pobre

O Marítimo considera-se mais pobre. Aliás, o dirigente sadino confessaria às páginas d´ ‘A Bola’ que "se o normal do Petita é o que o vi fazer na passada quarta-feira contra o Varzim, o Vitória não deveria pagar ao Marítimo quatrocentos contos, mas sim quatro mil". O Marítimo batera os poveiros por 5-2 – uma vitória inesperada e brilhante… O caso é exemplar – limitado às provas regionais, o Marítimo pode bater-se dentro de campo com os grupos continentais, mas a simples missão de segurar os frutos da sua actividade formativa estará sempre sujeita ao poderio dos clubes profissionais e ao legítimo anseio dos jogadores em alcançar outro pedestal. O mesmo já sucedera, como se viu anteriormente, com as saídas de Nelson e Feliciano para o Benfica. As reclamações verde-rubras pelo ‘assalto’ continental à margem das regras de transferência de jogadores, acabaram com acordo entre os clubes. Mas o Benfica tardava em honrar o compromisso de deslocar a sua equipa de Honra à Madeira para efectuar um jogo com o Marítimo, com receita a favor dos madeirenses.

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