Sou suspeito nesta análise. Assumo que admiro Alberto Contador. Repudio veementemente o comportamento dos adeptos e da imprensa internacional para com o espanhol. Também estou ciente de que a etapa de hoje foi categoricamente arrebatada pelo australiano Cadel Evans – que revela estar numa forma muito assinalável neste início de Tour -, mas foi o dorsal n.º 1, quanto a mim, que enviou um sinal a toda a concorrência. “El Pistolero” teve uma oportunidade de atacar e de mostrar credenciais, as pernas corresponderam e conseguiu retirar segundos a alguns dos adversários directos. Aquele levantar inocente de braços – de quem pensa que conquistou a tirada – não perde o sentido. O efeito psicológico sobre os demais pode ter um peso significativo no desfecho da Grande Boucle.
De resto, é relativamente simples fazer a sinopse do filme desta terça-feira. Os fugitivos acabaram, naturalmente, por ser actores secundários. Imanol Erviti (Movistar), Johnny Hoogerland (Vacansoleil), Jeremy Roy (Française de Jeux), Gorka Izagirre (Euskaltel) e Blel Kadri (AG2R La Mondiale) animaram grande parte dos 172,5 quilómetros, mas o trabalho árduo de várias equipas, com particular relevo para a BMC de Evans, deitou por terra quaisquer hipóteses de erguerem o galardão no Mûr-de-Bretagne.
A partir do momento em que a frente da corrida foi alcançada foi um veterano a dizer repetidamente “corta”. George Hincapie, um antigo escudeiro de Lance Armstrong, impôs um ritmo diabólico na pequena mas dura subida final. E foi, de facto, sempre a cortar. Já Cavendish e Farrar começavam a recuperação activa para o dia de seguinte…
Faltava, no entanto, agitação. Contador dançava na bicicleta logo nos primeiros lugares. O ziguezaguear foi só um prenúncio para o ataque. A triagem estava feita e só Evans, Phillipe Gilbert, Vinokourov e Jurgen Van den Broeck responderam à altura.
Um apontamento para Gilbert: muito feia a forma como, com vontade de vencer ou com pouca confiança nas capacidades do colega, fechou o espaço que Van den Broeck conseguiu ganhar aos restantes membros do grupo. Se ontem sublinhei a solidariedade no seio da Garmin-Cervélo, nomedamente de Hushovd, hoje sou obrigado a criticar a acção do campeão belga, da Omega Pharma-Lotto.
No meio disto, novo abanão de Contador e só Evans conseguiu dizer presente. Os dois disputaram o triunfo ombro a ombro, mas o photo finish dissipou as dúvidas. Evans foi mesmo o protagonista, de uma história que até correu bem ao espanhol de 28 anos, merecedor de uma menção honrosa. Prova disso foram os 8s ganhos a grande parte dos “contenders”, como Wiggins, Basso, Cunego e, sobretudo, Andy Schleck.
De notar e de destacar, uma vez mais, Thor Hushovd. O norueguês continua de amarelo. Acredito que tenha sofrido. Acredito que a acumulação de ácido láctico nos músculos das pernas fosse difícil de suportar, mas todos sabemos que envergar a liderança de uma grande prova obriga a momentos de transcendência e a que se enfrentem missões hercúleas como se da mais simples empresa se tratasse. Bravo!
Octávio Lousada Oliveira
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