Está a tornar-se muito difícil fazer qualquer tipo de previsão ou antecipar o que quer que seja na edição deste ano do Tour de France. Primeiro, eliminam o prólogo e fazem desaparecer as bonificações no final das etapas e nos sprints intermédios. Depois, traçam uma primeira tirada que termina numa colina, ao estilo das clássicas da Primavera, originando que o primeiro camisola amarela fosse alguém com características diferentes do habitual. Seguidamente, introduzem o contra-relógio por equipas para se verificar nova cambalhota na geral individual e na classificação por equipas. Como se não bastasse, ao quarto dia, temos nova chegada propícia a ataques e abanões. E, na jornada em que tudo parecia pensado para que a normalidade e a mediania se instalassem – excepto uma aproximação ao mar até à chegada a Cap Fréhel, onde o vento se poderia fazer sentir -, eis que ocorre um número invulgar de quedas e um sprint com contornos especiais.
Foram 164,5 os quilómetros que os ciclistas tiveram de percorrer no Noroeste francês, num percurso pouco sinuoso e aparentemente tranquilo. Contudo, seria trabalhoso contabilizar o total de quedas e, mais grave, o número de corredores com mazelas.
O mais mal tratado foi mesmo o esloveno Janez Brajkovic, da RadioShack, obrigado a abandonar prematuramente a prova gaulesa, tal como o campeão francês de contra-relógio, Christophe Kern, da Europcar. Posso incluir no rol de acidentados Robert Gesink, Tom Boonen, Sylvain Chavanel e o vencedor do ano passado, Alberto Contador, que “beijou o asfalto” por duas ocasiões – está complicada esta primeira semana para “El Pistolero”! A esse respeito, o dorsal n.º 1 chegou mesmo a afirmar que “estas etapas podem ser mais perigosas que os dias de montanha”.
Por outro lado, quem seguiu a etapa em directo teve a oportunidade de constatar que foi um sprint atípico aquele que deu a vitória – finalmente! – ao britânico Mark Cavendish. Preparação certinha por parte da HTC-Highroad, mas, quando Mark Renshaw olhou por cima do ombro, o Expresso da Ilha de Man não vinha na sua roda. O lançador abriu para o lado e obrigou a que fossem outros homens, como Boasson Hagen e Hushovd, a fechar o espaço para Peter Velits (HTC-Highroad). Quem aproveitou foi Phillipe Gilbert, que lançou o sprint, acabando por alcançar o segundo posto. Isto porque, numa outra linha de sprint, Joaquín Rojas Gil tentou a sua sorte mas já tinha o fantasma de Cavendish na sua roda, que, como se sabe, quando arranca de boa posição, costuma ser mortífero. A “aparição” de hoje fez lembrar o australiano Robbie McEwen, perito no aproveitamento dos comboios feitos para os seus adversários.
Na geral, tudo na mesma. Hushovd continua de pedra e cal na liderança, ainda que a maillot jaune esteja presa por 1s.
Para amanhã, prevejo uma etapa mais tranquila – o que não será difícil de acontecer -, e, pasmem-se, não aposto em Cavendish. Acredito que a Movistar trabalhará para o fazer descolar do pelotão na subida de 3.ª categoria, ou mesmo na última escalada (de 4.ª), procurando levar Rojas Gil ao primeiro triunfo da carreira na Grande Boucle. É este o meu vaticínio.
Octávio Lousada Oliveira
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