domingo, março 07, 2010

100 Verde Rubros Anos - Capítulo II, Parte 5


Vencido na Secretaria

Infelizmente para a História do Futebol Madeirense a primeira derrota do Marítimo aconteceria na Secretaria. Está em disputa a Taça ‘Armando Machado’. A iniciativa é do Club Sports Madeira. Depois de alguma polémica, a Associação decide que o vencedor será apurado por eliminatórias. Após ter afastado o Nacional (7-0), o Marítimo defronta o Madeira em jogo que acaba a zeros. Novo encontro, de desempate. O Marítimo está a vencer por 1-0. Mr. Young, árbitro da partida e elemento ligado ao Madeira assinala penalti contra o Marítimo. O guarda-redes do Marítimo discorda e ... abandona a baliza. Albin Yud, o suíço que veste a camisola verde-rubra, toma o seu lugar. O penalti é convertido quando ainda estão jogadores de ambas as equipas dentro de área. Arma-se grande confusão. O campo é invadido. Os jogadores do Marítimo recolhem à sede (a 50 me-tros). As tentativas de recomeçar a partida esbarram com a impossibilidade de desocupar o campo. A Associação de Futebol acabaria por considerar o Marítimo responsável pelos incidentes. E atribui a Taça ao Madeira. Escrevia-se a primeira derrota do Marítimo com equipas madeirenses, apesar de em campo o resultado ter sido um empate! Era um mau prenúncio ...

Derrota no Escuro

A primeira derrota do Marítimo em campo vai acontecer a 8 de Dezembro de 1918, frente ao União, por 2-3. Mas também este desfecho ficará envolto em polémica. E conduzirá mesmo à inactividade da Associação de Futebol. O Marítimo protestou o jogo. Razão do protesto: ainda antes da partida acabar já estava escuro e não se podia jogar normalmente, o que reduziu as hipóteses da equipa alcançar pelo menos o empate. O argumento tinha razão de ser? Sabe-se que o jogo começou muito depois das 15H30, hora a que se devia ter iniciado – cumprimento de horários é, por enquanto, uma regra desconhecida; também é certo que, na acenderam archotes à volta do campo, em sinal de protesto pela continuação da mesma. Albin Yud (nesta época vinculado ao Madeira) foi o árbitro. Depõe na Associação, confirmando que o desafio terminara sob escuridão. Esta entidade conclui que o encontro deveria ser anulado e mandado repetir. O União não acata a decisão. E recusa-se continuar a disputar o campeonato. A Associação, mais sujeita a influências que à força das suas decisões, não tem capacidade para resolver o problema. E permanecerá inactiva por dois anos. Uma semana depois as duas equipas defrontam-se num ‘particular’, para animar as hostes, enquanto a Associação não resolvia o problema que tinha em mão. O Marítimo vence por 3-0. Mas a verdade é que os unionistas tinham uma equipa forte, a única à altura de fazer frente aos verde-rubros ...

Marítimo Relança Associação


Com a Associação inactiva o interesse pelo futebol esmorece. Sem provas oficiais, volta-se às disputas particulares, sempre com algum interesse, mas distantes da atenção que os títulos associativos geravam. Vai partir do Marítimo a iniciativa para relançar a Associação. Através do boletim ‘O Desporto’ – que era feito na sede do clube e tinha por principais colaboradores elementos ligados ao Marítimo – é lançada uma convocatória de delegados dos clubes. O encontro efectua-se nos primeiros dias de Setembro de 1920. A 6 deste mês é nomeada uma Comissão Administrativa para a Associação. Ultrapassavam-se dois anos de letargia. Foi neste período que o Marítimo voltou a ser derrotado pelo União. A 19 de Janeiro de 1919, em jogo particular, de benefício para João Pimenta (‘Galhudo’, guarda- redes do Marítimo desde a fundação, que se encontra gravemente doente). Os unionistas impõem uma derrota por 3-0, resultado que conduz ao aumento da rivalidade entre as duas formações.

Falha Dolorosa

Relançada a actividade associativa, disputa-se o terceiro Campeonato da Madeira. O primeiro que o Marítimo perde. E o vencedor foi o União, embora não tenha chegado a derrotar os verde-rubros. Desta feita, um lapso do clube vai estar na base deste desfecho, abrindo portas a nova derrota ‘administrativa’. O Marítimo estava obrigado, como todos os outros clubes, a inscrever os jogadores que faria alinhar na prova. E é possível que não tenha junto à lista o nome de José de Sousa (Patas), jogador dos quadros do clube desde 1911. A Associação não o consegue provar, pois não está organizada ao ponto de registar as inscrições dos clubes; mas o jogador não só não tinha alinhado por qualquer outro clube, como sempre fora atleta do Marítimo ... O Campeonato disputa-se, numa primeira fase, em duas séries, a eliminar. O Marítimo, reconhecida unanimemente a sua superioridade, só entra na prova quando estão apurados os dois vencedores dessas séries, momento a partir do qual se joga para apuramento do campeão. Aos verde-rubros cabe disputar a primeira mão dessa ‘poule’ final com o ‘Império’. José de Sousa (Patas) é convocado para disputar a partida e alinha. A Associação viria a anular o resultado de campo (3-0 a favor do Marítimo), transformando-o em derrota com iguais números. Porque considerou que este jogador não estava inscrito para a prova. O clube não consegue fazer prova da inscrição, logo ...

Orgulho Ferido


Registe-se que a decisão da Associação foi acatada. O União acabou por conquistar o seu primeiro Campeonato, facto que deu azo a largos e longos festejos entre os seus apaniguados. A massa adepta do Marítimo teve dificuldade em ‘engolir’ o caso e ... deu-se a inventar versos, que depois cantarolava pelas ruas, sobre o que considerava ser a ‘imerecida vitória’. O orgulho verde-rubro estava ferido. Questionada a sua supremacia no futebol madeirense, o Marítimo desencadeia uma forte luta para manter-se no pedestal que construíra com vigor e sacrifício na década anterior. Os resultados dessa luta vão conduzir o clube a uma mais acentuada hegemonia do futebol regional e ao mais elevedo nível do futebol português. O caminho será árduo, mas glorioso. A sucessão de iniciativas inéditas e de grande importância no panorama futebolístico madeirense serão a base principal do percurso, que é complementado com a primeira batalha a que o Marítimo mete ombros para que os madeirenses tenham acesso a provas nacionais de futebol.

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