por Pedro Freitas
O campo é pequeno, e sim, fica debaixo de uma ponte, lá no meio do nada. O cheiro que por lá paira é forte, característico e inesquecível, a culpa é da empresa de cervejas. Os bancos eram de ferro e madeira, não que os tenha usado muitas vezes. As linhas eram marcadas com cal, mal e porcamente. Os postes da baliza eram de ferro, mesmo... As redes não eram brancas, não tinham piada. A "placa electrónica" do 4º árbitro era do mesmo material dos postes, em grande quantidade, a sério. Depois veio o plástico, passaram a ser duas, uma verde e outra vermelha, básico. O "relvado" era castanho por causa da terra e cinzento quando esta era pouca, a culpa era do vento... A bancada era pintada de verde-bananeira de um lado, e de ganhaste-uma-viagem do outro quando a bola ia para a ribeira. O público era hóstil e interventivo, em dia de derby. Nos outros jogos era pouco, quando havia. Os balneários, esses, só visto! Mas era lá que todos os dias vestiamos o calção, nalguns casos sem cueca. Puxávamos a meia bem para cima, ou nunca jogaram na terra? Calçávamos a chuteira mais manhosa que tivessemos, era o clube que nos dava. E iamos lá para dentro, fizesse sol ou chuva.. Manter a bola no chão era complicado, só ao alcance dos melhores. Rasteirar era impensável, a não ser que se tivesse garra, a que nós tínhamos. Suar era imperativo, mas não mais que ganhar.
Campo do Pizo. Câmara de Lobos. Madeira |
Impulsionados, não pelo público que muitas vezes não ultrapassava as 10 pessoas (o gajo do bar incluído), muito menos pelo prémio de jogo (o pão já tinha presenciado algumas manhãs, o fiambre cobria uma modesta parte do mesmo, e o sumo, quando havia, era daqueles instantâneos).. Impulsionados sim, por amor ao futebol, não menor que o que tinhamos pela camisola. Pela vontade de ganhar, que era muito superior à de qualquer equipa contra quem já joguei e, sobretudo, pelo nosso dever para com este pelado. O pelado que muito medo causou aos mais fracos, que glorificou os mais fortes, que muitas alegrias nos deu, que muitos jogos de invencibilidade nos proporcionou. O pelado que fez parte dos pesadelos de muito boa gente, o pelado que durante sete longos anos chamei de casa.
Para vocês não passa disso mesmo, um pelado, feio, pequeno e, provavelmente, um atentado ao futebol. Eu compreendo, e o dom da visão faz-me concordar convosco mas, foi esta "aberração" que me viu crescer, e não é mentira nenhuma se vos disser que é a melhor recordação que guardo do meu passado.
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