segunda-feira, janeiro 10, 2011

Bola Fora #6 - O Mítico Campo do Pizo


por Pedro Freitas



O campo é pequeno, e sim, fica debaixo de uma ponte, lá no meio do nada. O cheiro que por lá paira é forte, característico e inesquecível, a culpa é da empresa de cervejas. Os bancos eram de ferro e madeira, não que os tenha usado muitas vezes. As linhas eram marcadas com cal, mal e porcamente. Os postes da baliza eram de ferro, mesmo... As redes não eram brancas, não tinham piada. A "placa electrónica" do 4º árbitro era do mesmo material dos postes, em grande quantidade, a sério. Depois veio o plástico, passaram a ser duas, uma verde e outra vermelha, básico. O "relvado" era castanho por causa da terra e cinzento quando esta era pouca, a culpa era do vento... A bancada era pintada de verde-bananeira de um lado, e de ganhaste-uma-viagem do outro quando a bola ia para a ribeira. O público era hóstil e interventivo, em dia de derby. Nos outros jogos era pouco, quando havia. Os balneários, esses, só visto! Mas era lá que todos os dias vestiamos o calção, nalguns casos sem cueca. Puxávamos a meia bem para cima, ou nunca jogaram na terra? Calçávamos a chuteira mais manhosa que tivessemos, era o clube que nos dava. E iamos lá para dentro, fizesse sol ou chuva.. Manter a bola no chão era complicado, só ao alcance dos melhores. Rasteirar era impensável, a não ser que se tivesse garra, a que nós tínhamos. Suar era imperativo, mas não mais que ganhar.


Campo do Pizo. Câmara de Lobos. Madeira
Impulsionados, não pelo público que muitas vezes não ultrapassava as 10 pessoas (o gajo do bar incluído), muito menos pelo prémio de jogo (o pão já tinha presenciado algumas manhãs, o fiambre cobria uma modesta parte do mesmo, e o sumo, quando havia, era daqueles instantâneos).. Impulsionados sim, por amor ao futebol, não menor que o que tinhamos pela camisola. Pela vontade de ganhar, que era muito superior à de qualquer equipa contra quem já joguei e, sobretudo, pelo nosso dever para com este pelado. O pelado que muito medo causou aos mais fracos, que glorificou os mais fortes, que muitas alegrias nos deu, que muitos jogos de invencibilidade nos proporcionou. O pelado que fez parte dos pesadelos de muito boa gente, o pelado que durante sete longos anos chamei de casa.

Para vocês não passa disso mesmo, um pelado, feio, pequeno e, provavelmente, um atentado ao futebol. Eu compreendo, e o dom da visão faz-me concordar convosco mas, foi esta "aberração" que me viu crescer, e não é mentira nenhuma se vos disser que é a melhor recordação que guardo do meu passado.

Sem comentários: