Para qualquer país que tenha no ciclismo uma modalidade com algum relevo social é um luxo ter um executante a percorrer as estradas da Volta a França. A cobertura e exposição mediática serão maiores se forem dois os ciclistas presentes na prova gaulesa. Se a isso juntarmos o facto de um deles ter envergado a mítica camisola amarela, o orgulho nacional eleva-se ainda mais. Se, posteriormente, esse mesmo corredor vencer uma etapa, o tal país cumpre e supera as expectativas. Mas, pouco satisfeito, o compatriota teima em arrebatar também um triunfo. O primeiro, uns dias volvidos, responde com novo primeiro lugar numa tirada e, esta quarta-feira, o mais novo regressa ao lugar mais alto do pódio em Pinerolo. A minha pergunta é a seguinte: a Noruega levou dois vikings sob a forma de ciclistas para a Grande Boucle? É que só dois homens daquela pequena nação velocipédica já acumularam quase um quarto das etapas desta edição do Tour…
Na jornada que ligou Gap a Pinerolo (Itália), Edvald Boasson Hagen (Sky) “vingou” a derrota de ontem ante o compatriota Thor Hushovd (Garmin-Cervélo), depois de se intrometer em nova fuga ao pelotão. Após o bis, o multifacetado ciclista escandinavo afirmou mesmo ter “uma espinha encravada por não ter conseguido vencer” no dia anterior.
A etapa era dura – continha cinco contagens de montanha – mas o também vencedor da tirada entre Dinan e Lisieux não se mostrou temeroso. Na última e difícil subida do dia, Côte de Pramartino, Boasson Hagen deixou todos os companheiros circunstanciais de fuga e, a solo, subiu e desceu para terminar a receber os costumeiros beijinhos das meninas do pódio.
Com duas vitórias sucessivas, em etapas particularmente acidentadas, Hagen e Hushovd fazem-me recuperar parte do juramento de Eidsvoll (onde a Constituição daquele país foi adoptada), em que se diz “Unidos até que as montanhas do Dovre venham abaixo”. Não as da referida cordilheira, mas as montanhas francesas têm mesmo vindo abaixo com os dois únicos representantes da Noruega.
No que à geral individual concerne, parece-me haver um Contador superavitário para uma concorrência deficitária. Nova demonstração de força de “El Pistolero” (até mesmo a descer) e de Samuel Sánchez, que acabou por redundar em nada, face ao trabalho final dos outros adversários. Os únicos penalizados foram o líder Thomas Voeckler (Europcar) e o italiano Ivan Basso (Liquigas), que cederam 27 preciosos segundos. Esta quinta-feira teremos a etapa rainha do Tour de France’11, com a chegada ao centenário Galibier, ele que dá nome a este singelo espaço de análise. Como já aqui disse anteriormente, será dia de sofá.
Octávio Lousada Oliveira
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