Está encontrado o pódio da 98.ª edição da Volta a França. Estão também definidos os dois primeiros classificados da prova: Andy Schleck (Leopard-Trek) e Cadel Evans (BMC). O irmão mais velho, Frank Schleck, vai ter que se contentar com o lugar mais baixo do pódio e o grande favorito à partida, Alberto Contador (Saxo Bank-Sungard), quedar-se-á pelo 5.º posto, sendo expectável que ultrapasse Damiano Cunego (Lampre) no contra-relógio individual, em Grenoble.
Esta sexta-feira ficará para a História como uma das mais belas etapas a que os (tele)espectadores puderam assistir. Todos os condimentos foram colocados na dose correcta. Um vencedor inusitado mas repleto de mérito, Pierre Rolland (Europcar), ataques de figuras de proa a 90 quilómetros da chegada ao Alpe D’Huez, muita resistência – sem final feliz – por parte do camisola amarela Thomas Voeckler (Europcar) e diferenças muito curtas entre os três primeiros classificados, que deixam margem para rectificações no contra-relógio de hoje.
Uma vez mais, foi Alberto Contador a abrir as hostilidades. O dorsal 1 estava ciente de que arrebatar a amarela em Paris seria praticamente impossível mas, por motu proprio, não se coibiu de se atirar ao último esforço alpino como se dele dependesse a sua vida. E só por isso já merece uma palavra de apreço – e garantiu também o prémio da combatividade. Andy Schleck acompanhou-o de pronto e Voeckler bem tentou mas as pernas não responderam à altura. Ficou a meio caminho, sendo mais tarde absorvido pelo grupo dos restantes candidatos. Cadel Evans demonstrou, pela primeira vez na Grande Boucle sinais de fraqueza mas a sua BMC, a par da Liquigas, lá conseguiu recolocá-lo na frente da corrida, antes da entrada na última contagem de montanha da prova.
No entanto, no Alpe D’Huez, já depois de ter sido alcançado, Contador jogou nova cartada. Um ataque feroz e uma ascensão galopante, a que só Samuel Sánchez (Euskaltel-Euskadi) – virtual vencedor da classificação da montanha - e Pierre Rolland (Europcar) – novo líder da classificação da juventude – resistiram. Não deixa até de ser irónico que tenha sido o habitual aliado de “El Pistolero” a retirar-lhe a vitória da etapa, já nos quilómetros finais da subida, uma vez que levou a reboque o jovem francês, mais fresco, para se livrar dos dois espanhóis e conquistar um triunfo memorável. Merecia mais Contador, num dia em que a sua prestação se coadunou mais com as qualidades que lhe são sobejamente reconhecidas.
Os irmãos Schleck e Cadel Evans chegaram juntos – que marcação cerrada! – e guardaram para amanhã a derradeira batalha. Fora destas contas fica irremediavelmente um irascível Thomas Voeckler, que mostrou o seu desagrado com tudo. Colegas, director desportivo, boiões de água e motos da realização foram os escapes numa tirada bastante inglória para o ídolo francês.
Ivan Basso (Liquigas) constituiu a desilusão do dia e Peter Velits, por oposição, uma agradável surpresa (não para mim, reafirmo).
Amanhã joga-se tudo. Favoritismo para Cadel Evans, embora, em bom rigor, se saiba que a maillot jaune costuma dar asas a quem a enverga. E para o australiano será este ano ou nunca mais…
Octávio Lousada Oliveira
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