Coube a Álvaro Reis Gomes dar testemunho público dessa insatisfação, iniciando a batalha pela presença do clube campeão da Madeira no campeonato de Portugal. Tudo começa quando surgiram, na comunicação social da época, referências à organização da prova. Estudante de Direito em Lisboa, o jovem primeiro secretário da direcção do Marítimo, assume com clareza e objectividade, posições que terão o condão de alterar o rumo da organização do futebol nacional. Através de carta enviada ao ‘Sport de Lisboa’, publicada no dia 1 de Abril de 1922, Álvaro Reis Gomes, aplaude ‘a brilhante propaganda’ que era feita à organização dos campeonatos de Portugal, mas não se coíbe de ‘por o dedo na ferida’:
"O facto a que me refiro é o seguinte – em poucas palavras – : o esquecimento a que foi votado o futebol madeirense no último artigo de fundo de ‘O Sport de Lisboa’, onde se bordam palavras de louvor e de incentivo em redor de Faro, de Évora, de Braga e de Coimbra. E esse esquecimento não se justifica, meu caro camarada e amigo. ‘O Sport de Lisboa’ sabe muito bem que na Madeira se pratica o futebol, e não será seu intuito, decerto, restringir ao continente o direito de comparticipação em certamens nacionais. E unicamente no caso de se tratar da efectivação dos Campeonatos continentais é que poderse- ia por de parte as ilhas. Pois já nas provas metropolitanas, quanto mais nas nacionais, como as projectadas, tal gesto seria uma violência e um absurdo inqualificáveis. Lembro, pois, ao meu amigo que de futuro quando no vosso estimado jornal for ventilada a questão dos Campeonatos Nacionais de Futebol, - e sê-lo-á certamente por mais de uma vez ainda –, a Madeira, a minha terra, seja incluída no número dos pretensos concorrentes a tão simpáticas quão necessárias disputas. Em favor da comparticipação do futebol madeirense nos campeonatos nacionais razões de sobra existem, além do simples e fundamental motivo exposto atrás. É que na decantada «Pérola do Atlântico» não só se cultiva o futebol. Este encontra-se ali desenvolvido e bastante, creia. No respeitante propriamente à prática desse desporto admirável, contamos com agrupamentos bem constituídos, de cujas linhas fazem parte elementos que em condições de agilidade e resistência física se reúnem. Relativamente a organização não ficamos nós atrás dos principais meios do País. (...) Vê, pois, o meu amigo, que não é de todo em todo acanhada a vida desportiva madeirense e que lhe assiste e me assiste o direito de pugnar pela sua comparticipação nos Campeonatos Nacionais de Futebol, que esforçados desportistas pensam organizar sob a direcção competente da União Portuguesa de Futebol".
Lapso a Corrigir
O jornalista d´ ‘Os Sports de Lisboa’ reconhece que se tratou apenas … de um lapso, a remediar em futuros artigos. Mas da parte de Álvaro Reis Gomes este tinha sido apenas o primeiro passo. E um ano depois, um ofício da Associação de Futebol do Funchal à União Portuguesa de Futebol, propõe as condições de participação do campeão da Madeira no campeonato de Portugal. Tudo tinha sido negociado entre Álvaro Reis Gomes, agora delegado da Associação junto da União, e Raul Nunes, dirigente deste organismo, nos termos que se seguem: - as despesas de deslocação do campeão madeirense ao continente e da permanência eram da responsabilidade da Associação funchalense; - as deslocações no continente eram da conta da União e seriam suportadas com as receitas dos jogos da prova; - 20 ou 25% da receita dos encontros em que o campeão da Madeira tomar parte pertenciam-lhe; - era dada autorização para disputa de jogos não-oficiais, sem prejuízo dos jogos do campeonato, que permitissem angariar receitas para ajudar a suportar as despesas da deslocação.
Casa em lisboa
A parte mais substancial dos encargos estavam por conta da Madeira. Daí a reacção – é proposto ao Conselho Geral da União que os encargos sejam repartidos em partes iguais entre a Associação e a União ou, na pior das hipóteses, nas proporções de 75% - 25%. A solução encontrada é a de cativar 15% da receita de todos os jogos da prova – mesmo daqueles em que o campeão da Madeira não participe – para constituir o fundo de suporte às despesas das viagens de ida e volta. É uma vitória histórica. Mas vem marcada com uma visão centralista: "Para tomar parte no campeonato de Portugal os grupos das ilhas tomam como sede a cidade de Lisboa", dita-se em ofício da União à Associação. Álvaro Reis Gomes luta até ao fim para que a comparticipação da União seja superior. E acaba conquistando a cativação de 30% de todos os jogos para a constituição do tal de fundo de ajuda à presença dos portugueses da Madeira no campeonato de Portugal.
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