Existe uma característica em cada ser humano, cujo reflexo é bastante visível nos seus comportamentos seja em que área for, que aprecio bastante: a assunção do risco. Daí decorre a minha profunda desilusão com a etapa de ontem do Tour de France, uma vez que ninguém teve coragem de abanar definitivamente a corrida. Uma chegada a Plateau de Beille, na derradeira oportunidade pirenaica, pressupunha mais arrojo da parte dos líderes das principais equipas do pelotão.
Numa corrida endurecida desde muito cedo pela Leopard Trek dos irmãos Schleck, foram muitas as cerimónias para se aumentar o ritmo na cabeça do grupo principal quando os gregários dos luxemburgueses terminaram o seu trabalho. Mais uma vez, ou as forças estavam muito equiparadas entre os homens para a geral individual ou o respeito mútuo acabou por imperar – ou mesmo receio de atacar e ficar “a pé”.
O paradigma do calculismo ou da aposta nos serviços mínimos foi Alberto Contador. O espanhol da Saxo Bank-Sungard limitou-se a responder aos ataques dos seus adversários mais directos – sendo que não podia responder a todos – mas nunca esboçou qualquer tentativa de contra-ataque. Veremos o que conseguirá fazer nos Alpes…
Por sua vez, Cadel Evans e Ivan Basso não têm explosão para sacudir homens como “El Pistolero” ou os irmãos do grão-ducado e Damiano Cunego, sem constituir uma grande desilusão, não conseguiu acompanhar os restantes candidatos até ao topo da montanha.
A sociedade Andy-Frank foi, uma vez mais, quem mais procurou ser feliz mas sem sucesso. O mais velho sentiu até algumas dificuldades nos quilómetros finais quando Cadel Evans e Ivan Basso aumentaram o ritmo.
No meio de todo este emaranhado velocipédico foi Jelle Vanendert (Omega Pharma-Lotto) a puxar dos galões e a fazer um esforço solitário, cruzando a meta antes de todos os favoritos, naquele que foi o maior triunfo da sua ainda curta carreira. Samuel Sánchez não se conformou com o equilíbrio pelo terror que se fazia sentir no seio do grupo e foi à procura de Vanendert, ainda que tenha ficado a 21s da nova descoberta do ciclismo belga.
Digno de registo continua a ser o estoicismo e a capacidade de vender cara a derrota – será que vai mesmo ceder a amarela? – do líder Thomas Voeckler. O francês não só se defendeu perfeitamente dos tubarões do pelotão como ainda teve a ousadia (calculada) de os pôr em sentido com ataques esporádicos. Será somente o elã da maillot jaune? Custa-me a crer.
Octávio Lousada Oliveira
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