Cumpriu-se o desígnio de Cadel Evans. O ciclista da BMC alcançou finalmente o triunfo que mais ambicionou. “O que posso dizer? É incrível… Há tantos anos que penso ganhar o Tour de France”, foram as espontâneas palavras que o australiano proferiu após cortar a meta nos Campos Elísios.
A subida ao lugar mais alto do pódio em Paris materializa a vitória da persistência sobre a resignação. Foram várias as tentativas, incomensuráveis as dores, bastantes os pesadelos e, sobretudo, diversas as frustrações. Ano após ano, parecia que faltava sempre um pouco de qualquer coisa ao ciclista natural de Katherine. E não havia forma de Evans superar essa lacuna. Ora um dia para esquecer na montanha, ora um contra-relógio por equipas que o relegava para segundo plano na luta pela geral, ora uma queda numa etapa plana que o marcava para as três semanas de prova… Enfim, uma espécie de determinismo natural conspirava contra o campeão do mundo de 2009.
Contudo, como afirma o aforismo popular, água mole em pedra dura tanto bate até que fura. E furou mesmo. Está premiada uma carreira repleta de sucessos, embora poucos reflictam a inegável qualidade de um homem que já leva 18 anos de carreira, tendo servido várias formações com peso no seio do pelotão internacional.
Já que é de fazer um balanço que se trata este artigo, uma referência muito positiva para os dois irmãos Schleck – com o “pormaior” dos contra-relógios, que lhes continuam a custar vitórias nas grandes voltas. Sublinho também as prestações de Thomas Voeckler (Europcar), o guerreiro da Grande Boucle, de Pierre Rolland (também da Europcar) por ter arrebatado o prémio de melhor jovem da prova, de Thor Hushovd (Garmin-Cervélo) e Boasson Hagen (Sky) pelas quatro etapas que conquistaram para a Noruega, de Philippe Gilbert (Omega Pharma-Lotto) pela disponibilidade para estar constantemente ao ataque, de Jérémy Roy (Française des Jeux), ciclista mais combativo ao longo dos 3430 quilómetros em estradas gaulesas, de Samuel Sánchez (Euskaltel-Euskadi), pelo 6.º lugar na geral individual e por juntar a camisola branca às bolinhas vermelhas ao seu palmarés, obviamente do português Rui Costa (Movistar), por trazer uma etapa no bolso, e da melhor equipa, a Garmin-Cervélo.
Deixei Mark Cavendish e a HTC-Highroad de fora destas contas gerais porque, de facto, seis vitórias arrecadadas por uma só formação é… obra. Cinco dadas pelo sprinter de serviço, o britânico de 26 anos - que até foi o mais rápido na chegada a Paris e envergou a camisola verde no pódio final - e uma pelo alemão Tony Martin no contra-relógio de sábado.
A última menção é para Alberto Contador. Despediu-se da 98.ª edição do Tour em bom plano e foi sempre honrosa a forma como defendeu o dorsal 1. Atacou quando pôde, defendeu-se quando teve de o fazer e só se rendeu quando percebeu que as pernas não lhe fariam mais concessões e os adversários já estavam demasiado longe. Promete regressar em 2012 - sem correr o Giro pelo meio - para vencer. Será?
Importa ainda referir que hoje é feriado nacional na Austrália. Pudera… Este poderá ser o tónico que o universo velocipédico do país precisava para começar a produzir homens talhados para grandes provas, ao invés de emanar somente roladores e sprinters.
Quanto a mim, é com alguma nostalgia que termino esta rubrica que tanto gosto me deu fazer. Reafirmo que foi um prazer colaborar com os amigos da Liga Tahiti. Despeço-me com amizade, quiçá até Julho do próximo ano…
Octávio Lousada Oliveira
Sem comentários:
Enviar um comentário