Aprecio bastante o conceito de hibridismo quando aplicado ao ciclismo. Polivalência tresanda a futebol (e a treinadores como José Mourinho ou Paulo Bento) - sem qualquer sentido pejorativo inerente. Isto porque ser polivalente remete-nos para a ideia de um ser multifacetado, embora, na prática, não seja muito bom ou especialista em nenhuma das suas incumbências. O hibridismo é algo menos comum: é como uma selecção de qualidades de seres diferentes que tem a mãe natureza como agente activa, como um composto orgânico que combina as especificidades de elementos que, isoladamente, são pouco úteis, como um texto que comunga da simplicidade da função denotativa e, a espaços, da erudição da função poética.
Edvald Boasson Hagen, o vencedor da tirada desta quinta-feira que ligou Dinan a Lisieux, não é um corredor polivalente. É um paradigma de hibridismo. Tem uma elevada estatura sem comprometer demasiado a sua capacidade para subir. Mesmo trepando bem, não deixa de rolar a bom ritmo em terreno plano. É explosivo e possui uma considerável velocidade de ponta, como se viu na sua primeira vitória na Grande Boucle, sem que isso prejudique a sua manifesta propensão para esforços solitários contra o cronómetro (é pentacampeão norueguês na especialidade). Aos 24 anos, já integrou a fortíssima HTC-Highroad, sendo agora um dos comandantes do quartel da Sky.
No artigo de ontem já tinha referido que Cavendish não suportaria o perfil “em dentes de serra” da etapa e isso confirmou-se. Farrar, Petacchi e Greipel também não aguentaram a última subida, com o ritmo imposto pela equipa do “Expresso da Ilha de Man”, apostada em levar Matthew Goss ao triunfo na etapa mais longa desta edição do Tour (226,5 quilómetros).
Contudo, foi o compatriota do camisola amarela, um imberbe cheio de qualidade, que reclamou para si a subida ao pódio, após um sprint apertado com Goss e com o líder da prova, Thor Hushovd. Aquele que apontei como favorito claudicou. Faltaram pernas – ou um lançamento exímio, como o que Gerraint Thomas fez para Boasson Hagen – para que Joaquín Rojas Gil se intrometesse entre os três primeiros. Já que falamos de jovens, uma nota ainda muito positiva para o italiano Adriano Malori, campeão italiano de contra-relógio, que foi o homem mais combativo desta dura jornada.
E, para todos os que dizem que a velha guarda do ciclismo é que tinha encanto, só neste artigo já apontei meia dúzia de nomes que ainda não dobraram – ou que completaram há pouco tempo – um quarto de século de existência. Esta juventude tem de ser levada a sério!
Octávio Lousada Oliveira
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