O Tour de France’11 tem início já este sábado. A prova gaulesa começa e – mais pitoresco – terminará sob um clima de incerteza e suspeição, em virtude da processo judicial sobre aquele que defende o ceptro de vencedor, o espanhol Alberto Contador.
O ciclista, agora ao serviço da dinamarquesa Saxo Bank-SunGard, ainda não conhece o veredicto do Tribunal Arbitral do Desporto (TAS) e só depois da emblemática chegada aos Campos Elíseos a decisão final será conhecida. Corre, portanto, o risco de lhe ver retiradas a vitória de 2010 e uma eventual vitória nesta edição. O cepticismo e a desilusão estendem-se aos organizadores da prova – com Christian Prudhomme à cabeça – aos meios de comunicação social, passando pelos milhões de adeptos da modalidade por todo o mundo. Isso ficou patente na apresentação oficial da Grande Boucle na passada quinta-feira, quando o ciclista, natural de Pinto (nos arredores de Madrid), foi vaiado por grande parte dos presentes em Puy du Fou.
Questões judiciais à parte, el Pistolero é o grande favorito a chegar vestido de amarelo a Paris, mesmo depois de arrebatar a maglia rosa no Giro de Itália. Contador afasta, contudo, o favoritismo e considera que o cenário mais provável é nem vencer a maior prova velocipédica mundial, devido à fadiga física e mental acumulada nas três semanas em solo transalpino.
É aqui que surge o nome de Andy Schleck. O ciclista que teimou em colocar a hegemonia de Contador em causa nas últimas duas edições aparece então como um fortíssimo candidato à vitória, até porque o percurso (apenas com um contra-relógio individual) acaba por ser mais ao seu jeito. Resta saber qual a margem de tempo que precisará de amealhar nos Pirinéus e nos Alpes para chegar ao esforço solitário em condições de destronar o tricampeão.
Actualmente, na Leopard-Trek, o mais novo dos irmãos Schleck – que terá no primogénito Frank um escudeiro de luxo – quererá bater na estrada o espanhol e dar um murro no estômago do seu antigo director desportivo, Bjarne Riis, timoneiro do conjunto liderado por Contador.
As equipas, essas, equivalem-se em valor, embora me queira parecer que o trio composto pelos irmãos Schleck e pela motorizada suíça Fabian Cancellara - possa causar mossa a Contador e aos seus gregários. Jesus Hernández e Daniel Navarro, pela Saxo Bank, deverão assumir as maiores responsabilidades de levar o líder confortável até aos últimos quilómetros de cada tirada de alta montanha.
Existem ainda muitos nomes com fortes hipóteses de se intrometerem neste duelo que começa a ganhar contornos de um “Aquiles-Heitor das duas rodas”, dos quais elejo o italiano Ivan Basso, o australiano Cadel Evans, o holandês Robert Gesink e o belga Jurgen Van den Broeck, sem menosprezo por todos os outros como Levi Leipheimer, Andreas Kloden, Samuel Sanchez ou Bradley Wiggins.
Uma vez referidos Levi Leipheimer e Andreas Kloden, uma nota para a RadioShack, equipa do recordista de vitórias no Tour, Lance Armstrong (agora como director desportivo), que me parece em busca de uma identidade e, sobretudo, de uma liderança forte, apostando em vários homens para a geral e, como se sabe, onde proliferam cozinheiros o resultado não costuma ser bom.
Para as etapas planas, não me parece que as equipas dos principais sprinters permitam grandes concessões a fugitivos. A HTC-Columbia do torpedo Mark Cavendish, a Lampre do veterano Alessandro Petacchi e a Garmin do resiliente Tyler Farrar quererão amealhar vitórias nos primeiros dias da prova, até porque, chegada a montanha, as oportunidades e as forças escassearão.
Para a camisola verde, a história será outra, e o belga Tom Boonen, que normalmente ultrapassa com maior facilidade a inclinação da estrada, é o meu favorito, por não acreditar que os três nomes que apontei resistam ao Galibier e à mítica subida a Alpe D’Huez, na última semana de prova.
De referir ainda outro belga, Philippe Gilbert, o campeão daquele país, que fez história nas clássicas das Ardenas este ano, e que poderá perfeitamente ter uma palavra a dizer nas chegadas mais acidentadas com os arranques explosivos que lhe são tão característicos.
Por último, os portugueses, Rui Costa, pela Movistar, e Sérgio Paulinho, pela RadioShack, poderão almejar a uma vitória numa etapa, caso tenham liberdade para tal, contando desde já que ambos cheguem a Paris, quiçá com Rui Costa a envergar a camisola branca, símbolo de melhor jovem da prova.
Será um Tour recheado de pontos de interesse. Nós cá estaremos para o acompanhar dia após dia, quilómetro após quilómetro, esperando que os dias pós-competição não ofusquem o brilho que os ciclistas procurarão dar a cada etapa.
Octávio Lousada Oliveira
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Octávio Lousada Oliveira é licenciado em Ciências da Comunicação pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas e é actualmente mestrando em Ciência Política pelo mesmo Instituto. Fez estágios curriculares no Parlamento Global e no jornal Record. A convite da Liga Tahiti, Octávio Lousada Oliveira irá analisar detalhadamente neste espaço tudo sobre o 98.º Tour de France.
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