O segundo e último dia de descanso da Volta a França foi uma boa oportunidade para se ouvir um pouco daquilo que as principais figuras das estradas pensam sobre esta última semana de prova. Dentre as banalidades que normalmente são proferidas nestas ocasiões, destaco a sensatez e perspicácia do director desportivo da Euskaltel-Euskadi. Igor González de Galdeano – lembram-se dele? – foi lacónico e lançou os próximos dias da Grande Boucle de forma muito acertada. O team manager da equipa basca, em declarações à agência EFE, afirmou que “Alberto Contador iria decantar o Tour num sentido ou noutro”.
E, de facto, tal com apontei há uns dias neste espaço, o espanhol é dos poucos com coragem para atacar a corrida e os adversários, mesmo onde o atrevimento é menos expectável. Nesta terça-feira, no Col de Manse, subida de 2.ª categoria que antecedeu a chegada a Gap, “El Pistolero” foi o primeiro a consumar aquilo que a equipa de Cadel Evans, a BMC, fazia prever: um teste exigente a Thomas Voeckler (Europcar) e a toda a concorrência. Após duas ou três mudanças de velocidade tão características, o dorsal n.º 1, o australiano e o basco Samuel Sánchez foram-se mesmo embora. Se no final da subida a vantagem não era muito preocupante, na descida as distâncias avolumaram-se. Principal penalizado: Andy Schleck (Leopard-Trek).
E este abanão, que o próprio Contador admitiu ter sido “melhor do que podia imaginar” volta a reacender a luta pela geral e a conferir grande dose de favoritismo a… Cadel Evans. O ex-campeão do mundo está numa forma incrível – veja-se como reagiu sempre de pronto ao chefe de fila da Saxo Bank e como desceu e rolou de forma imparável até cruzar a meta na Capitale Douce – e é de todos os candidatos à vitória final aquele que melhor se comporta no contra-relógio.
Mesmo que Contador não inscreva o seu nome na lista de vencedores pela quarta vez, está visto que da sua acção dependerá o epílogo da luta pela maillot jaune. Voltando a recorrer às palavras de Galdeano, “os seus rivais temem-no e, se estiver bem, vai partir a corrida”.
Aproveito ainda para sublinhar o carácter e a senda vitoriosa de Thor Hushovd (Garmin-Cervélo). O segundo líder desta edição do Tour voltou a fazer uma demonstração cabal de toda a sua classe. Vencer em Gap – onde Sérgio Paulinho venceu no ano transacto -, depois de mais uma longa fuga, suplantando o seu compatriota Edvald Boasson Hagen (Sky), não é para todos. É para Hushovd e poucos mais… E só deixei esta menção para o final porque tendo a decisão da guerra a acontecer não poderia focar-me particularmente na batalha de hoje.
Octávio Lousada Oliveira
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