Estão encontrados os homens que efectivamente lutam pela vitória na Volta a França. Apesar dos ciclistas ainda terem que ultrapassar a dura etapa de amanhã, com nova passagem pelo Col du Galibier e subida final ao Alpe D’Huez, ficou hoje claro quem são os candidatos ao triunfo final. E, sem menosprezar Thomas Voeckler – que julgo que ficará no pódio, os grandes favoritos são Andy Schleck e Cadel Evans. Mesmo o primogénito da família Schleck, Frank, não conseguirá amealhar tempo suficiente na tirada de amanhã para chegar ao contra-relógio com margem para o australiano da BMC.
Esta quinta-feira a Leopard Trek, através de uma estratégia muito bem montada, deu uma machadada nas aspirações de Alberto Contador (Saxo Bank-Sungard) e relançou Andy Schleck, que com inconfundível classe seguiu Alpes fora, ajudado apenas pelo seu companheiro Maxime Monfort. Foi um ataque calculado, é certo, mas com uma dose de arrojo a resvalar para o suicídio. Brian Nygaard e Kim Andersen, responsáveis da formação luxemburguesa, foram argutos e os irmãos Schleck até tinham um plano B, caso o ataque do mais novo fracassasse. Frank tentaria a sua sorte na eventualidade do grupo de candidatos alcançar Andy na última subida (Galibier Serre-Chevalier). A loucura e o sucesso raramente se emparelham mas, como por vezes acabam por se tanger, dou 20 valores a Andy Schleck pela soberba prestação alpina.
Confirma-se também a superioridade da Leopard Trek em todos os terrenos e comprova-se aquilo que ainda hoje Paulo Martins, da Eurosport, fez questão de frisar: o Giro e a Vuelta podem ser ganhos sem equipa, mas no Tour isso é praticamente impossível.
Apesar da dobradinha familiar, o meu segundo destaque tem que ser dirigido a Cadel Evans. Parecia uma locomotiva, depois da pasmaceira que teve lugar entre o Col d’Izoard e o início da subida ao Galibier. Não se amedrontou por carregar toda a concorrência às costas, qual canino portador de múltiplas carraças, e reduziu a vantagem do dorsal 11 em cerca de dois minutos. Neste momento, as odds estão a seu favor.
Apesar do parasitismo – ainda que subtil, mesclado com escassez de forças -, Thomas Voeckler (Europcar) voltou a segurar a maillot jaune. As hipóteses de triunfar em Paris não são muitas mas ainda existe uma réstia de esperança para os franceses. Pierre Rolland esteve impecável ao longo das três subidas, escudou o seu líder e ainda se aproximou da camisola branca, agora na posse do estoniano Rein Taaramae (Cofidis).
Uma última nota para o detentor da prova, Alberto Contador: ninguém pode negar a sua qualidade e a sua bravura, mesmo quando está menos bem fisicamente. Mas está provado que vencer o Giro e tentar conquistar o Tour não está ao alcance de todos. Contador não é Pantani e os tempos também são outros. Deveria repensar a sua preparação no próximo ano porque, como o próprio já admitiu, “a vitória é impossível”.
Em suma, está feita a grande triagem nesta edição muito poeirenta da Grande Boucle. Esperemos que amanhã as diferenças não sejam demasiado relevantes para que o crono de Sábado ainda consubstancie alguma incerteza e emoção.
Octávio Lousada Oliveira
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