Com suor e lágrimas Cadel Evans (BMC) arrebata a Volta a França’11. Foram necessárias muitas participações, muita perseverança e muito sofrimento para subir ao lugar mais alto do pódio em Paris, mas, finalmente, o sonho do australiano vai cumprir-se e este domingo será promovido a Comandante Cadel em plenos Campos Elísios, no coração da capital francesa.
À partida para o contra-relógio em Grenoble, 57s separavam-no do mais novo dos irmãos Schleck, Andy, e 4s era quanto tempo de atraso tinha para o mais velho, Frank. O seu director desportivo, John Lelangue, foi cauteloso na abordagem à etapa, conferindo maior dose de favoritismo a quem partia com vantagem. Mas obviamente que do pensamento à palavra há um filtro tremendo, uma arte de mascarar a verdade ou mesmo uma divergência evidente. O líder da BMC era o favorito, por muito que isso não tenha sido assumido. Mind games, mind games…
O mais novo do clã luxemburguês possuía legítimas aspirações a vencer o Tour deste ano, até porque o seu principal carrasco, Alberto Contador, claudicou no primeiro dia do Galibier e ficou praticamente arredado da luta final. Mas há um aspecto que não pode ser escamoteado: quando se perde mais de dois minutos e meio num contra-relógio, é preciso ter asas na montanha. E, apesar de ter sido o melhor nas duríssimas jornadas pirenaicas, primeiro, e alpinas, depois, Andy Schleck não amealhou tempo suficiente para se defender no esforço solitário. Há ainda um outro ponto a considerar: actualmente, há apenas um crono individual no percurso da maior prova velocipédica do mundo; há uns anos, eram dois, o que, com perdas similares em ambos, deixaria o dorsal 11 de fora do pódio.
Evans foi o mais regular da Grande Boucle e, ao cabo de muitos anos de desilusões e frustrações, vai dar um tónico ainda maior ao ciclismo do seu país. Mereceu esta vitória pela forma combativa como sempre deu o “peito ao vento” e nunca se escondeu atrás de artifícios estratégicos ou tácticas irritantes de contenção. Como referiu Lelangue, “foram três contra-relógios em três dias” para o australiano. Que justo será vê-lo este domingo a beber champanhe e a deixar de ser o “eterno segundo” ou “senhor quase”.
Uma nota para o belíssimo contra-relógio de Tony Martin (HTC-Highroad) – e, consequentemente, para a quinta vitória da formação norte-americana - e outra para a desilusão que foi o super-favorito Fabian Cancellara (Leopard Trek), apenas 8.º classificado.
Pierre Rolland (Europcar) segurou a camisola branca, símbolo da liderança da classificação da juventude, resistindo à aproximação do estoniano Rein Taaramae (Cofidis). Por isso, na etapa deste domingo, entre Créteil e Paris, só resta definir o camisola verde, símbolo da regularidade. Mark Cavendish (HTC-Highroad), pois claro, parte na frente, com 15 pontos sobre Joaquín Rojas (Movistar), e não deve desperdiçar esta oportunidade. De resto, creio que até triunfará nos Campos Elísios…
Seguro, seguro é que, para o ano, será Cadel Evans o dorsal 1 da prova, com toda a propriedade. Em frente Comandante!
Octávio Lousada Oliveira
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