sábado, julho 09, 2011

COL DU GALIBIER #7: É o respeito, estúpido!


Ouve-se amiúde falar de uma espécie de código entre os ciclistas que compõem o pelotão internacional. Esse acordo tácito, que consagra valores como a solidariedade, o respeito, o jogo limpo, entre muitos outros, que deviam imperar nas provas velocipédicas, no desporto em sentido amplo e na sociedade em geral.

No entanto, há uma grande disparidade entre a verborreia da maioria dos ciclistas e respectivos directores desportivos e as acções dos mesmos, dia-a-dia, nas estradas.

O que se passou na etapa desta sexta-feira, num total de 218 quilómetros entre Le Mans e Châteauroux foi, sem eufemismos, vergonhoso. Razão tem Bernhard Eisel (HTC-Highroad).“Não há respeito no Tour”, considera o ciclista austríaco que, ontem, foi fundamental na preparação do sprint para Mark Cavendish.

Num dia marcado pelo infortúnio de Bradley Wiggins (Sky), forçado a abandonar o Tour na sequência de mais uma queda no pelotão, e pela confirmação de que Tom Boonen não saiu bem tratado do tombo de anteontem, indo também mais cedo para casa, foi muito pouco correcto ver a Leopard Trek e a BMC a aumentarem o ritmo quando Levi Leipheimer e Christopher Horner (ambos da azarada RadioShack) seguiam num grupo mais atrasado, também eles prejudicados pelo sucedido. O segundo, recorde-se, fracturou mesmo o nariz e já hoje se soube que não continua na Grande Boucle.

Parafraseando uma figura do futebol nacional: “O fair-play é uma treta!”


Bernhard Eisel foi mesmo mais longe, apesar de não ter querido alongar-se muito sobre o assunto. “Quando estamos na preparação dos sprints, há equipas que se intrometem e aproveitam o nosso trabalho. Mas nós estamos tranquilos até porque quando chegarem as etapas de montanha vamos ter uns dias de férias e eles não. Não vamos aproveitar o trabalho de ninguém”.

Não poderia estar mais de acordo. Que a HTC-Highroad ou a Garmin-Cervélo, que vinham a assumir as despesas da perseguição há bastantes quilómetros, não baixassem o ritmo, é compreensível e justificável. Estava um possível triunfo em causa. Que as outras equipas que referi se juntassem ao comboio acho inadmissível. Leipheimer, esse, está fora da luta pela vitória final e até mesmo de uma possível tentativa de pódio. Triste.

Importa ainda referir que, nos metros finais, Cavendish não deixou os seus créditos por mãos alheias e arrebatou a vitória, sobre o veterano Petacchi (Lampre) e sobre o seu ex-colega Andre Greipel (Omega Pharma-Lotto).

Hoje, meus amigos, começa a Volta a França a sério. Espero que a dos logros e dos azares tenha ficado em Châteauroux.
Octávio Lousada Oliveira

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