segunda-feira, julho 11, 2011

COL DU GALIBIER #9: Quem tem medo da televisão?


Já tinha sublinhado neste espaço a atipicidade desta edição do Tour de France. Porém, ocorreu ontem o episódio mais insólito e lamentável desde o início da prova gaulesa. Mas por que raio um carro da empresa que tem a seu cargo a produção televisiva da Grande Boucle faz uma manobra tão arriscada, numa estrada demasiado estreita, “ceifando” por completo Juan Antonio Flecha (Sky) e, consequentemente, Johnny Hoogerland (Vacansoleil)?

É preciso mesmo muita falta de atenção ou uma dose considerável de incompetência para pôr em causa a integridade física de cinco ciclistas – afinal podiam ter tombado todos os fugitivos.

Se repararmos, estas desatenções só vêm contribuir para um Tour irremediavelmente caricato e acidentado. Apesar de já ter assistido a edições com mais abandonos até à 9.ª etapa, a verdade é que chegamos ao primeiro dia de descanso já com vários candidatos ao top 10 – não acredito que fossem efectivos pretendentes a envergar a amarela nos Campos Elísios – fora da competição. Depois de Brajkovic e Horner (ambos da RadioShack) e Wiggins (Sky), ontem ficaram arredados da luta Vinokourov (Astana), Van den Broeck (Omega Pharma-Lotto) e Zabriskie (Garmin-Cervélo), todos vítimas de uma queda em que também Millar (Garmin-Cervélo) e Kloden (RadioShack) estiveram envolvidos.


Já Alberto Contador, uns quilómetros antes, tinha sentido o asfalto, confirmando a malapata que o tem acompanhado desde o primeiro dia.

Quanto à etapa propriamente dita, destaque para a reviravolta na classificação. Thor Hushovd (Garmin-Cervélo) perdeu a amarela para o francês Thomas Voeckler (Europcar), na segunda jornada em que uma fuga foi bem sucedida. Luis León Sanchez (Rabobank) levou de vencida o novo líder e o outro francês que os acompanhava, Sandy Casar (Française de Jeux), subindo ao segundo posto da geral individual.

Entre os favoritos não houve grandes mexidas. Houve um pequeno corte no pelotão na chegada a Saint-Flour, motivado pela dureza do último quilómetro e meio. Levi Leipheimer, Andreas Kloden, Ivan Basso e Robert Gesink perderam 8s para Contador, para os irmãos Schleck, para Evans, para Cunego e para Samuel Sanchez.

O merecido descanso chega esta segunda-feira. Os ciclistas vão retemperar, vão procurar recuperar de algumas mazelas sofridas e, sobretudo, ganhar coragem para o que aí vem. A etapa de terça-feira será “apenas” uma transição mas os Pirenéus já estão à vista. Creio que teremos nova fuga a vingar.

Em jeito de balanço, esta primeira parte de Volta tem, quanto a mim, quatro homens uns furos acima do restante pelotão. 1.º: Philippe Gilbert pela vitória na etapa inaugural, pela liderança na classificação por pontos e pela potência que demonstra em cada ataque; 2.º: Thor Hushovd pela forma como contribuiu para o bom desempenho colectivo da Garmin-Cervélo e pelo estoicismo com que segurou a amarela até este domingo; 3.º: Mark Cavendish uma vez que, em chegadas em pelotão compacto, é o melhor do mundo e já o demonstrou por duas vezes nesta 98.ª edição do Tour; 4.º: Cadel Evans, uma vez que, dos favoritos à vitória final, foi o único que não cedeu segundos nas etapas mais complicadas. Chegou numa forma impressionante, não baqueou em nenhuma circunstância e até já venceu uma tirada. Teremos homem para a amarela em Paris?
Octávio Lousada Oliveira

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